O Velho Ódio
Os sóis caem sobre Tel Aviv como brasas no olho do deserto.
Netanyahu fica à janela, o rosto talhado em sombras duras, os olhos, dois
pedaços de carvão acesos. Tem as mãos calejadas de tanto apertar gatilhos
invisíveis, de tanto assinar ordens que chegam a Gaza como trovões de chumbo.
"Eles nos oprimem", diz ele, baixo, para os
fantasmas que o rodeiam. "Os persas, os árabes, o mundo inteiro nos oprimem."
Mas o vento que vem do mar traz o cheiro de pólvora e
sangue, e as paredes do seu gabinete murmuram nomes em hebraico e árabe, todos
iguais: mortos, mortos, mortos, e mais mortos no fim.
Lá fora, as ruas de Gaza são um tapete de escombros, e pais cavam
com as mãos nuas entre os destroços, buscando os filhos que o fogo de Netanyahu
engoliu. Quem oprime quem? O velho líder sabe a resposta, mas a enterra fundo
dentro de si, como um soldado enterra a baioneta na terra molhada depois da
batalha.
"Se não dominarmos o Oriente Médio, eles nos
dominarão", pensa, enquanto acaricia o mapa como quem afia uma faca. Mas
os mapas são traiçoeiros — nunca mostram os ossos que os sustentam.
No Irã, os aiatolás, em surdina, olham para o líder de Israel,
e dizem: "O monstro que nos justifica." E assim gira essa roda, o sangue
alimentando o sangue, o ódio justificando o ódio.
Netanyahu olha para o céu, onde os drones zumbem como moscas
sobre a carne podre. Talvez ele sonhe com um império. Talvez só tema o abismo.
Será que ele não sabe que o homem que luta contra as feras pode acabar se tornando uma pior?
No fim, não há vencedores nas guerras eternas. Só sobreviventes, cada vez mais sozinhos, cada vez mais vazios... enquanto isso, o Mediterrâneo, indiferente, continua a levar os corpos para debaixo do chão.