AMOR ATÔMICO



Amor Atômico

É tão estranho se sentir feliz hoje em dia. Eu me sentia assim. Estranhamente feliz. Sim, era incrível. Parecia que todas as células do meu corpo concordavam com a minha felicidade, também.

Talvez, porque elas ainda estivessem anestesiadas pelo amor. Eu recém havia acabado de amar e agora estava sentado no portão de frente de casa. Tudo ali parecia um momento único, eterno. 

Atrás de mim, no alto da varanda, estava meu amor também olhando a rua. Eu havia a espiado de relance. Ela nem notou, estava observando toda aquela luz, se sentindo tão feliz como eu. 

Voltei a olhar a rua, os paralelepípedos dourados de sol, o brilho entardecido das árvores, os telhados quentes das casas, tudo era uma claridade fora do comum. 

De repente, sei lá, senti um arrepio inusitado. Achava-me estranhamente feliz porque, neste minuto de êxtase, bem-estar, também toda essa forte claridade havia tomado conta do mundo, de instante a outro.

Era como se tudo ali, naquela fração de segundo, agora estivesse sendo escaneado por essa luz magnânima, inclusive minhas células sentiram isso…

De repente, sei lá, não sei como tudo isso veio acontecer, não era mais o amor que achava que sentia, era algo mais estranho, acontecendo fora do meu alcance, dos meus sentidos, e nada mais acontecia em mim. 

Subitamente, então, percebi que se tratava do sentimento de perda que eu sentia pelo mundo ser destruído por uma explosão nuclear acontecendo, silenciosamente. 
Não havia mais o tempo, o espaço, não havia mais sentido algum em continuar vivendo aquele minuto estático. Eu e o meu amor continuávamos ali, paralisados, eu sentado no portão de casa e ela no alto da varanda, observando o dia terminar de maneira tão abrupta, inesperada. Parecia que a realidade não levou uma fração de segundo sequer. 

Instantaneamente tudo passou a ser escaneado, levando as nossas almas para bem longe, um lugar sem mesmo existir ainda aqui, embora, ainda assim, a gente continuasse ali, que por um segundo apenas, quase tornou-se um momento eterno, porém, que também havia passado por nós.