PRIMEIRA NOTA




Eu não me responsabilizo por possíveis anúncios adicionados nas minhas publicações. Aliás, não tenho tempo de resolver isso, parece que, primeiro, precisa monetizar o blog, mas nem sei como elaborar esse processo informático. Enfim, confiarei na propaganda de bom nível e que esteja associada aos assuntos exclusivamente comerciais, por isso, se encontrar algum erro ou falha, por favor me desculpem. 

O SONHO DA CONFEITARIA COLOMBO




O SONHO DA CONFEITARIA DA COLOMBO.
 


Tínhamos que pegar uma torta de chocolate e mais duas bandejas de salgadinhos na Confeitaria Colombo.  Já estava encomendada quando a minha mãe saiu bem cedo para trabalhar.

Agora, no finalzinho da tarde, ela chegava com as sacolas de compras do supermercado, trazendo carne, ovos, leite, frutas, café e pão para o nosso jantar. Isso, sem esquecer do nosso beijo em seu rosto no mesmo instante em que mandava a gente apagar as luzes porque ela dizia que não era sócia da Light

Em seguida, tornou-se a nos lembrar e nos apressar para buscarmos a encomenda sem mais demora, acrescentando que suas amigas não tardariam a chegar, que iriam confraternizar com o último dia de trabalho, o fim de ano. 

De posse da notinha e do dinheiro, eu e meu irmão, descemos no elevador e logo estávamos na calçada de Nossa Senhora de Copacabana, próximo ao posto 6. A agitação da avenida sempre estava intensa naquele horário, o trânsito mais ainda. Aliás, isso até me fez pensar no bairro.

Copacabana, no final dos anos 60, já era considerada uma espécie de cidade igual a muitas cidades cosmopolitas espalhadas pelo mundo. Ao longo das três principais avenidas, sempre estão repletas de veículos, de pedestres e de estabelecimentos comerciais pelas quadras, além dos bares e restaurantes por toda a orla da Atlântica, dando a perceber o contraste sonoro de muitos lugares. Isso se deve ao fato de que muitas ruas transversais apresentam um silêncio inexplicável. Talvez sejam os paredões dos edifícios construídos sob a influência do concretismo francês, mas não estava bem certo disso, não saberia como explicar isso melhor. Simplesmente a gente dobra uma esquina e toda a agitação se transforma em um silêncio de rua arborizada, tal como o sossego das ruas de cidadezinhas do interior.

Isso também me fazia sentir um poeta urbano, desejando ouvir a nova música do jazz mais romântica. Nessa época, aliás, o trompete de Mile Davis já andava em voga junto à Bossa Nova de Tom Jobim. Também, o contraste doce da beleza de Brigitte Bardot com a alegria rebelde de Leila Diniz. Podia-se dizer que tais influências se misturavam umas às outras, inclusive com o surgimento do Rock’n rol. Era uma liberdade mais autêntica surgindo em nosso bairro. Era também a nova expressão da juventude pelo mundo a fora, modificando até o estilo de a gente se vestir. O Blue Jeans, por exemplo, espalhara-se como a própria dimensão dos mares continentais, logo ganhando todo o mercado da moda como nunca fora visto em toda a história dos hábitos sociais e culturais do planeta. Sim, o mundo estava mudando. Passávamos por estas bruscas transformações. 

Enquanto isso, a gente seguia pelas calçadas, já percorrendo o movimento longitudinal do asfalto urbano da Zona Sul carioca. Sentíamos a energia da brisa suave, como se fosse mesmo, um sonho ao vivo, real. Nascia, enfim, a verdadeira identidade musical do nosso samba brasileiro com o jazz norte-americano! Isso arrepiava nossos pelos dos braços só de sentir essa viva emoção no ar. Estávamos conquistando o mundo musical, também.

Levei o trajeto inteiro pensando em tudo isso. Agora, não. Já estava recebendo o troco da encomenda, sentindo o doce cheiro do sonho espalhado por toda a confeitaria…

De repente, não sei como isso aconteceu, fiquei com vontade de beijá-la, de abraçá-la ali mesmo, no balcão, e mergulhar em seus sonhos também.

No caminho de volta para a casa, quase duas quadras depois, por precaução, lembrei de conferir o troco amassado nos dedos, então coloquei a torta sobre o capô de um carro estacionado na calçada.

— O que foi? — quis saber meu irmão, já segurando o passo com as duas bandejas de salgadinhos suspensas em cada mão.

Não respondi logo, não sabia como explicar isso naquele momento. Acho que ainda lembrava do sorriso da garota, eu com água na boca.

Verifiquei o troco. Inesperadamente, então, percebi que ela havia me devolvido todo o valor da encomenda e mais o troco, também. Hesitei por um instante. Pensei nas opções que eu poderia escolher: um ingresso de uma peça teatral que desejava assistir há mais de duas semanas; o novo LP do Tom Jobim recém-lançado na praça; por último, novamente a lembrança do belo sorriso dos olhos da garota a persistir em minha cabeça.

Voltamos à Confeitaria (...)




Desculpe, mas se você gostou de ler isso, você pode conferir como termina esta estorinha, baixando o EBOOK pelo preço de um café expresso, afinal de contas, preciso valorizar o meu trabalho… não concorda comigo?