200 DIAS SEM LULA




Ainda me lembro do Lula saindo da sede do sindicato dos metalúrgicos para se entregar à Polícia Federal. Saiu ‘sozinho’, a pé, isso depois de várias tentativas de militantes nos portões do sindicato tentando impedi-lo de cometer esse erro, achavam imprudente. Sim, muitos entendiam do mesmo modo como havia acontecido com a presidenta Dilma Rousseff, ela também errara em confiar na decisão do congresso e senado, levando esse posicionamento às decisões finais do Supremo Tribunal Federal até as últimas consequências, portanto, não seria diferente com Lula, afinal, Dilma sofrera o golpe “com supremo com tudo”. Lula foi preso sem mesmo a decisão transitar em julgado. 

De lá para cá, já se passaram 200 dias e ele continua em confinamento sem poder dar uma entrevista sequer, além de todas as arbitrariedades posteriores, como o impedimento da sua candidatura. Em suma, ele ficou isolado, incomunicável com a sociedade, como se fosse uma ameaça absoluta, cuja medida não se aplica nem mesmo aos bandidos de alta periculosidade — haja visto que estes circulam na mídia, de quando em quando, conforme o interesse da opinião pública, pelo menos dando alguma entrevista. No entanto, Lula não é criminoso. Por acaso ficou provado sua culpa? Onde estão as provas? Aliás, todos sabem que o tal tríplex foi confiscado do patrimônio da OAS  e não do patrimônio do Lula. A sociedade brasileira, ou é hipócrita, ou é vítima do sensacionalismo, afinal, criou-se em torno dele um grande espetáculo midiático. Martelaram dia e noite em cima dessa cruz, a qual ele deveria carregar daqui por diante. Parte da opinião pública também contribuiu com seu preguinho diário, também todos já estavam convencidos da sua culpa. 

Passaram-se 200 dias e o mesmo juiz que o condenou agora será o ministro da justiça no governo Bolsonaro. Lembre-se de que este mesmo juiz havia dito que não entraria para a política. Há vídeos, entrevistas com ele falando sobre isso. O que foi essa mudança de posicionamento, assim, de repente? Como assim? Será que a farsa ainda não ficou evidenciada desde o princípio? Ora, meus senhores, minhas senhoras, a ingenuidade é totalmente aceitável em nossos filhos de pouca idade. Aos alienados, aos despolitizados, aos inconsequentes, também é até perdoável, tolerável. Refiro-me aos esclarecidos. Será que a palavra adequada não é hipocrisia? Não seria, também, um certo sentimento de acovardamento? 

As discussões são vastas, sobretudo aos analistas políticos que possuem elevada experiência em narrativas mais longas e mais aprofundadas para apurar os fatos aqui, concisos. Eu não sou a pessoa certa para dizer isso. Sou um mero cidadão comum mediano, sou do povo. No entanto, estou totalmente insatisfeito de ver o ex-presidente Lula confinado como se fosse um criminoso de alta periculosidade. Esqueceram do que foi feito em seu governo? 

Pois, considero um total desrespeito e mau-reconhecimento da nação brasileira. Quem ainda tem dúvida disso basta analisar os fatos, todas as incoerências, todos os absurdos que dizem, dele, agora. Digo mais. Pode escutar os mesmos questionamentos quando for passar férias no exterior. Sim, tudo lá é tão chique, maravilhoso, seletivo, não é mesmo? Porém, possivelmente, comentário como este agora também poderá ocorrer:
— És do país cujo presidente quis tirar o povo da miséria e da fome e vocês, tão ricos investidores, simplesmente não o deixaram fazer isso? Sim, o vosso país é assim mesmo, é verdade. Entendo, mas quando é que esse jeitinho brasileiro terá fim?