Então vamos ao que interessa. As borboletas possuem um ciclo
de vida em quatro fases: ovo, larva, pupa e imago, a última fase já como
adulta. Além disso, elas são pré-históricas. Os fósseis mais antigos, por
exemplo, são cerca de 50 milhões de anos atrás. Hoje, são muitas espécies
espalhadas pelo planeta. Fiquei impressionado, é lógico, pois imagine só: elas
borboleteavam fragilmente por entre brutamontes dinossauros de alongado
pescoço!
Talvez seja por isso que, antes delas se tornarem belas
borboletas, ainda sejam contemporâneas lagartas gordas e feias; aliás, na
segunda fase da vida, elas também passam o dia inteiro devorando folhas. Só
encerram a atividade alimentar depois de um ano, quando vão então para a
terceira fase para hibernar na pupa, daí até o momento em que acontece a
metamorfose, ganhando finalmente asas para voar como esbeltas borboletas.
Evidentemente, todo o processo é muito impressionante.
Depois de um ano se arriscando a serem caçadas enquanto são
famintas lagartas, depois se metamorfoseiam borboletas e mudam o cardápio,
passando então a sugar o néctar das flores ou o suco dos frutos maduros caídos
das árvores. No entanto, diferente do tempo anterior, muitas espécies
borboleteiam somente por um dia para depois morrerem absurdamente! Considerei
injusto esse paradoxo da natureza…
Pois, bem. Tive a sorte de ver com meus próprios olhos uma
borboleta saindo do seu casulo. Foi por acaso, quando eu estava debaixo de uma
árvore, aqui próximo de casa. Achei mesmo incrível, pois, diferentemente da
lagarta que nasce do ovo, eu presenciei o momento exato em que ela surgiu da
casca de pupa com suas asas coloridas em modo vertical.
Fiquei simplesmente embasbacado, maravilhado com a cena. Só não
gostei do que vi depois. Não notei antes. A borboleta também. Acabara de sair e
ainda estava ocupada em se limpar e exercitar as asas, já quase pronta para
voar. Não levou muito tempo. Acredito que menos de um minuto, talvez. Então, levei
um susto: uma língua fina e elástica laçou-a de cima do casulo de modo
instantâneo…
Era um sapo verde. Estava ali o tempo todo, imóvel,
camuflado entre as folhas. Senti um ódio mortal, o sapo ficou me olhando e
sorriu com o mesmo sorriso irônico do pré-histórico lagarto — evidentemente
esclareço não ter nada a ver com o macho da lagarta, até porque ela é um inseto
e não um réptil escamado de quatro patas.
Enfim, senti pena da borboleta. Ela já estava pronta para
inaugurar seu primeiro voo após passar o ano inteiro rastejando como lagarta,
quem sabe até fugindo desse mesmo sapo ordinário, vai se saber… Coitada, justo
agora que tinha somente 24 horas para borboletear livremente por aí, não viveu
um minuto sequer! Muito azar, realmente.
Voltei pra casa desolado.