Tenho
falado pouco. Na verdade, muito pouco, mesmo, quase nada. Somente,
sim, ou somente, não, como resposta direta, pois quem se importa se não há
mesmo o que se dizer quando não existem sequer ouvidos, sequer palavras, exceto
um ar de solidão indiferente, todos compenetrados sobre suas janelas luminosas.
Aqui no metrô, por exemplo, ainda permaneço olhando para o vazio, para o nada,
através da minha janela viva, mais real. Estou tentando me acostumar com o que
está acontecendo em minha volta. Espiei uma mulher um pouco mais afastada de
mim, ela também me observa de relance. Está lendo um livro, aliás, uma coisa
rara, hoje em dia. Curiosamente, o título do livro é O Resto é Silêncio, de Érico Veríssimo. Coincidência ou não, ando
com este pensamento na cabeça. Talvez este sentimento não acontece só comigo,
apesar de todo mundo andar assim, ultimamente. Reconheço: tornamo-nos mariposas
de olhos enfeitiçados sobre as janelinhas dos celulares de luzes esplendorosas…
Oh, tudo bem, que se dane, afinal, quem se
importa senão eu ou ela, ali sentada próxima de mim? Ora, ainda estamos
desacostumados, deslocados no tempo, então aqui jaz incrédulos, solitários,
continuamos a sós nesse vagão de metrô, o resto é silêncio, nada mais!