ENQUANTO ELA NÃO CHEGAR


   

Era noite. Céu estrelado. O vento breve ficou mais longo. Soprou as árvores da minha janela, o gemido de mulher que o fez imaginar ela vindo até ele. Tinha o olhar brilhante, pele à flor da pele arrepiada em prazer. Vinha, sim, com este olhar irresistível, onde, lentamente, nessa prosa de estrada passando dentro dele, constatava cena surpreendente tomando conta da imaginação. O vento continuava lhe arrebatando os sentidos, como se cada folha desprendida dos ramos das árvores, voando solta pelo ar, fosse a parte minúscula do seu ser. E com que desejo reprimido, foi arrancando as folhas de dentro, uma a uma, excitado, aquela ereção de latejo sob fecho do jeans... 

De sobressalto abri as pálpebras de medo. Temia imaginar o que tentava resistir, ela vindo seminua no assento de trás, entre beijos e afagos, as mãos ora subindo, ora descendo por debaixo da saia, da blusa, buscando o formato liso dos seios, os contornos, os retornos de idas e vindas sobre coxas macias, buscando o púbis desnudado. Os lábios na boca, feito favo de mel, e já por cima…, mas por cima de quem estariam os gemidos banhados de fogo por ela e por quem? Eu não sei, eu não sei, mas gemia o gemido dos meus sentidos em suspiros, murmúrios, sussurros, todos os orgasmos não pareciam ter mais fim! E nesse tremor da imaginação, ouvindo o vento soprar nos ramos das árvores, ela vinha num sonho de folha solta, breve suspiro, enquanto ela não chegar. 

As folhas das árvores continuavam caindo sob o luar, o vento brando de brisa no fim. E agora, será que ela vem? Sem ela, sou folha caída, nem vento, nem brisa, ninguém.