9 de jun. de 2025

SOLDADOS E SONHOS PERDIDOS

REUTERS/Omar Younis

Soldados e Sonhos Perdidos.

 

Los Angeles queima, mas não é o fogo da terra seca. É outro tipo de chama. É mais antiga, mais amarga. Dois mil soldados chegaram. Não para apagar incêndios, mas para conter homens, mulheres, crianças. Gritos em espanhol, em inglês, em medo. Trump mandou seus homens, e a Califórnia, com os dentes cerrados, os recebeu. Não é guerra civil, não. É só mais um capítulo de um livro que já estava escrito: o sonho americano virou pesadelo, e agora há tropas nas ruas para conter os protestos e guardar os escombros.


Os canais falam em revolução, em sangue, em divisão. Mentira. A divisão já estava lá — só ficou nua! Os imigrantes de Paramount e Compton não são invasores. São as pessoas que colhem seu alimento, que constroem suas casas, que limpam seus hotéis. Vieram atrás de um conto de fadas que lhes foi vendido: trabalhem duro, e serão parte disso aqui. Mas o conto tinha fim. O sonho acabou. E agora, em vez de abraçá-los, mandam soldados.


Não é sobre leis. É sobre esquecimento...


Os mesmos homens que falam em fronteiras não se lembram que seus avós atravessaram oceanos em porões de navios, famintos, perseguidos. Todos vieram de algum lugar. Todos fugiam de algo. A diferença é que alguns, ao chegarem, puxaram a escada atrás de si.


Enquanto isso, as florestas ardem. Os oceanos engolem cidades. O planeta, esse imigrante solitário no cosmos, segue girando, indiferente às nossas medíocres fronteiras inventadas.


No fim, todos somos estrangeiros, sim, na terra, no tempo, na história. E talvez um dia, quando o último muro cair e a última bandeira for queimada pelo sol, a gente entenda: não havia pátria. Só havia gente. E o dever simples de não deixar ninguém para trás.