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Ilustração-Pixabay-by-hobim |
ALGO ESTRANHO ACONTECE...
Em um mundo onde a política se tornou um espetáculo, a
administração de Donald Trump nos Estados Unidos se destacou por uma série de
medidas que muitos consideram arbitrárias e, por vezes, francamente estranhas.
Desde sua posse em 2017, Trump adotou um estilo de governança que mistura
populismo, nacionalismo e uma dose generosa de imprevisibilidade. O resultado?
Um governo que frequentemente deixa amigos e inimigos igualmente perplexos.
Uma das primeiras e mais polêmicas medidas foi a implementação
da chamada "proibição muçulmana", uma ordem executiva que restringia
a entrada de cidadãos de vários países de maioria muçulmana nos Estados Unidos.
A justificativa era a segurança nacional, mas a medida foi amplamente criticada
como discriminatória e contrária aos valores americanos de liberdade e
inclusão. Os protestos foram imediatos e intensos, com aeroportos virando palco
de manifestações e batalhas judiciais.
Outra medida que chamou a atenção foi a insistência na
construção de um muro na fronteira com o México. Trump prometeu que o México
pagaria por ele, algo que nunca aconteceu. Em vez disso, o governo americano
acabou desviando fundos de outras áreas, incluindo o orçamento militar, para
financiar a construção. O muro se tornou um símbolo da política de imigração
dura de Trump, mas também uma fonte de controvérsia e divisão.
E quem poderia esquecer a relação tumultuada de Trump com a
mídia? Ele frequentemente acusava veículos de comunicação de espalhar
"fake news" e chegou a chamar a imprensa de "inimiga do
povo". Essa retórica não apenas minou a confiança nas instituições
jornalísticas, mas também levantou preocupações sobre a liberdade de imprensa
em uma das democracias mais antigas do mundo (Grécia antiga).
A gestão da pandemia de COVID-19 foi talvez o capítulo mais
controverso. Trump minimizou a gravidade do vírus, promoveu tratamentos não
comprovados e frequentemente contradizia especialistas em saúde pública. Sua
insistência em reabrir a economia rapidamente, mesmo com os números de casos
subindo, foi vista por muitos como uma escolha entre dinheiro e vidas. O
resultado foi um dos piores desempenhos no combate à pandemia entre os países
desenvolvidos.
Mas talvez o mais estranho de tudo tenha sido a obsessão de
Trump com a eleição de 2020. Mesmo antes da votação, ele começou a semear
dúvidas sobre a integridade do processo eleitoral. Após sua derrota para Joe
Biden, ele se recusou a conceder e lançou uma campanha sem precedentes para
reverter os resultados, culminando no ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de
2021. Esse evento chocou o mundo e levantou questões profundas sobre o futuro
da democracia americana.
Fazendo um retrospecto, o governo Trump foi e parece que
continuará outro período de extremos. Para seus apoiadores, ele é um líder que
coloca "América First". Para seus críticos, ele é um presidente que
governa por capricho, ignorando normas e instituições. Suas medidas são arbitrárias,
são estranhas, seu governo é complexo, até bizarro...
Bem, estou indignado com o que está acontecendo com os
norte-americanos, pelo menos durante o governo Trump. É um sentimento que ecoa
a perplexidade de muitos ao redor do mundo, especialmente daqueles que
reconhecem a riqueza cultural, literária, artística e musical dos Estados
Unidos. Como pode um país que produziu figuras como Mark Twain, Ernest Hemingway, Toni Morrison,
Bob Dylan, Nina Simone, e tantos outros que desafiaram as normas e inspiraram
gerações, ser também o palco de um governo que muitas vezes parece desprezar
justamente os valores que essas figuras representam?
O paradoxo é evidente. Os Estados Unidos são uma nação que
se orgulha de ser um farol de liberdade, democracia e inovação. Sua literatura
e arte frequentemente exploram temas de justiça, igualdade e resistência contra
a opressão. No entanto, o governo Trump, com suas políticas de exclusão, sua
retórica separatista e seu desprezo pelas instituições democráticas, parece
caminhar na direção oposta. A "proibição muçulmana", a obsessão com o
muro na fronteira com o México, o ataque constante à imprensa e o descaso com a
pandemia de COVID-19 são exemplos de ações que contradizem os ideais que muitos
associam ao espírito americano.
A eleição de 2020 e o subsequente ataque ao Capitólio em 6
de janeiro de 2021 foram talvez o ápice desse paradoxo. Enquanto a literatura e
a arte americanas frequentemente celebram a resistência contra a tirania e a
defesa da democracia, o que vimos foi um presidente tentando deslegitimar uma eleição
e incitando uma insurreição que ameaçou os pilares do sistema político
americano. O contraste entre o ideal e a realidade é chocante.
E, sim, é impossível não traçar paralelos com o governo
Bolsonaro no Brasil. O descaso com a pandemia, a promoção de tratamentos sem
comprovação científica, o ataque às instituições democráticas e a retórica
divisória são elementos que ecoam sobre o que vimos nos Estados Unidos. Em
ambos os casos, há uma desconexão entre a riqueza cultural e histórica desses
países e as ações de seus líderes são quase idênticas, não?
Eu não sou político, mas que tem algo errado, isso tem, por
isso a indignação. Como pode um país que produz obras literárias que inspiram o
mundo a buscar um futuro melhor ser também o cenário de tanta regressão e
divisão? Elas nos lembram que a luta por justiça, igualdade e democracia é
constante e que, mesmo em momentos de escuridão, há sempre a possibilidade de
resistência e renovação.
Enquanto os Estados Unidos e o Brasil lidam com os legados
complexos de governos recentes, é importante lembrar que a cultura e a arte
continuam a ser ferramentas poderosas para questionar, resistir e imaginar um
futuro melhor. São os reflexos, as consciências, e é através disso que podemos
esperar por mudanças verdadeiras e duradouras, não é mesmo?