5 de fev. de 2025

ALGO ESTRANHO ACONTECE...

 
Ilustração-Pixabay-by-hobim

ALGO ESTRANHO ACONTECE...


Em um mundo onde a política se tornou um espetáculo, a administração de Donald Trump nos Estados Unidos se destacou por uma série de medidas que muitos consideram arbitrárias e, por vezes, francamente estranhas. Desde sua posse em 2017, Trump adotou um estilo de governança que mistura populismo, nacionalismo e uma dose generosa de imprevisibilidade. O resultado? Um governo que frequentemente deixa amigos e inimigos igualmente perplexos.


Uma das primeiras e mais polêmicas medidas foi a implementação da chamada "proibição muçulmana", uma ordem executiva que restringia a entrada de cidadãos de vários países de maioria muçulmana nos Estados Unidos. A justificativa era a segurança nacional, mas a medida foi amplamente criticada como discriminatória e contrária aos valores americanos de liberdade e inclusão. Os protestos foram imediatos e intensos, com aeroportos virando palco de manifestações e batalhas judiciais.


Outra medida que chamou a atenção foi a insistência na construção de um muro na fronteira com o México. Trump prometeu que o México pagaria por ele, algo que nunca aconteceu. Em vez disso, o governo americano acabou desviando fundos de outras áreas, incluindo o orçamento militar, para financiar a construção. O muro se tornou um símbolo da política de imigração dura de Trump, mas também uma fonte de controvérsia e divisão.


E quem poderia esquecer a relação tumultuada de Trump com a mídia? Ele frequentemente acusava veículos de comunicação de espalhar "fake news" e chegou a chamar a imprensa de "inimiga do povo". Essa retórica não apenas minou a confiança nas instituições jornalísticas, mas também levantou preocupações sobre a liberdade de imprensa em uma das democracias mais antigas do mundo (Grécia antiga).


A gestão da pandemia de COVID-19 foi talvez o capítulo mais controverso. Trump minimizou a gravidade do vírus, promoveu tratamentos não comprovados e frequentemente contradizia especialistas em saúde pública. Sua insistência em reabrir a economia rapidamente, mesmo com os números de casos subindo, foi vista por muitos como uma escolha entre dinheiro e vidas. O resultado foi um dos piores desempenhos no combate à pandemia entre os países desenvolvidos.


Mas talvez o mais estranho de tudo tenha sido a obsessão de Trump com a eleição de 2020. Mesmo antes da votação, ele começou a semear dúvidas sobre a integridade do processo eleitoral. Após sua derrota para Joe Biden, ele se recusou a conceder e lançou uma campanha sem precedentes para reverter os resultados, culminando no ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Esse evento chocou o mundo e levantou questões profundas sobre o futuro da democracia americana.


Fazendo um retrospecto, o governo Trump foi e parece que continuará outro período de extremos. Para seus apoiadores, ele é um líder que coloca "América First". Para seus críticos, ele é um presidente que governa por capricho, ignorando normas e instituições. Suas medidas são arbitrárias, são estranhas, seu governo é complexo, até bizarro...


Bem, estou indignado com o que está acontecendo com os norte-americanos, pelo menos durante o governo Trump. É um sentimento que ecoa a perplexidade de muitos ao redor do mundo, especialmente daqueles que reconhecem a riqueza cultural, literária, artística e musical dos Estados Unidos. Como pode um país que produziu figuras como Mark Twain, Ernest Hemingway, Toni Morrison, Bob Dylan, Nina Simone, e tantos outros que desafiaram as normas e inspiraram gerações, ser também o palco de um governo que muitas vezes parece desprezar justamente os valores que essas figuras representam?


O paradoxo é evidente. Os Estados Unidos são uma nação que se orgulha de ser um farol de liberdade, democracia e inovação. Sua literatura e arte frequentemente exploram temas de justiça, igualdade e resistência contra a opressão. No entanto, o governo Trump, com suas políticas de exclusão, sua retórica separatista e seu desprezo pelas instituições democráticas, parece caminhar na direção oposta. A "proibição muçulmana", a obsessão com o muro na fronteira com o México, o ataque constante à imprensa e o descaso com a pandemia de COVID-19 são exemplos de ações que contradizem os ideais que muitos associam ao espírito americano.


A eleição de 2020 e o subsequente ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 foram talvez o ápice desse paradoxo. Enquanto a literatura e a arte americanas frequentemente celebram a resistência contra a tirania e a defesa da democracia, o que vimos foi um presidente tentando deslegitimar uma eleição e incitando uma insurreição que ameaçou os pilares do sistema político americano. O contraste entre o ideal e a realidade é chocante.


E, sim, é impossível não traçar paralelos com o governo Bolsonaro no Brasil. O descaso com a pandemia, a promoção de tratamentos sem comprovação científica, o ataque às instituições democráticas e a retórica divisória são elementos que ecoam sobre o que vimos nos Estados Unidos. Em ambos os casos, há uma desconexão entre a riqueza cultural e histórica desses países e as ações de seus líderes são quase idênticas, não?


Eu não sou político, mas que tem algo errado, isso tem, por isso a indignação. Como pode um país que produz obras literárias que inspiram o mundo a buscar um futuro melhor ser também o cenário de tanta regressão e divisão? Elas nos lembram que a luta por justiça, igualdade e democracia é constante e que, mesmo em momentos de escuridão, há sempre a possibilidade de resistência e renovação.


Enquanto os Estados Unidos e o Brasil lidam com os legados complexos de governos recentes, é importante lembrar que a cultura e a arte continuam a ser ferramentas poderosas para questionar, resistir e imaginar um futuro melhor. São os reflexos, as consciências, e é através disso que podemos esperar por mudanças verdadeiras e duradouras, não é mesmo?