10 de abr. de 2025

O CUSTO

 

Ilustração-pixabay


O Custo.

 

O homem, a cara amarrada, senta-se à mesa da cozinha. A conta de luz está aberta, o café frio. A tarifa chega como um inverno precoce: 125% sobre coisas feitas na China. Ele olha para os tênis novos do filho, comprados em abril. Agora custa o dobro. Não, mais que o dobro. A matemática é simples. A vida, não.

Nas ruas, as lojas anunciam liquidação. “Estoque limitado”, dizem. Donos de bikeshops encostam bicicletas chinesas contra as paredes vazias. Um fazendeiro do Nebraska vende dois tratores. A soja não vale mais nada. Os chineses compram do Brasil.

Nas docas, os contêineres esperam. Homens de coletes laranjas fumam em silêncio. “México”, alguém disse. “Vietnã.” As empresas grandes já têm mapas novos. O resto fica ali, parado, como peixe em rede seca.

A mulher no supermercado segura uma panela. Made in USA. O custo: cinquenta dólares. Antes, a chinesa custava vinte. Ela coloca a panela de volta na prateleira. Decide comprar arroz e feijão enlatado. Na fila, um velho conta que o remédio para o coração subiu 80%. Ninguém fala de comércio livre. Falam do gás, do leite, da neve que virá no próximo ano.

À noite, na TV, um homem de gravata grita sobre inimigos e vitórias. O homem da cozinha desliga o aparelho. Olha para a esposa, que costura um casaco rasgado. Ela não levanta os olhos. Sabe o que vem. Sabe que guerras — mesmo as de tarifas, mesmo as sem balas — sempre escassa a comida, o remédio, o pão dos que não estão nos discursos.

É assim. Você constrói um muro pra manter o mundo lá fora, longe de tudo. Só não dizem que o muro também tranca você aqui dentro. Com o preço da proteção nas costas e o vento frio entrando pelas frestas. Pior, o custo da calefação também está nas alturas.





2 de abr. de 2025

O MÊS DOS LIVROS E HISTÓRIAS

 

img ilustração CDJ

O Mês dos Livros e Histórias.
 

Para quem se perde em páginas e histórias, abril é um convite à celebração. Esse é o mês em que a literatura floresce com intensidade, assim como a primavera em algumas partes do mundo. É o momento de encontros com autores, leitores e personagens que habitam as mais diversas obras.

No Brasil, o cenário não poderia ser mais encantador. Curitiba se transforma em palco literário com a Literatiba, reunindo vozes que dialogam em torno de ideias e palavras. Já Penápolis anima os jovens leitores com a Flipen, cheia de contos e oficinas. Em Ipuã, o aroma de livros preenche o ar durante a Feira do Livro, levando cultura a cada esquina. Tiradentes, por sua vez, respira literatura em seu centro histórico com a FLITI, onde livros e tradições se entrelaçam.

E além-mar, na majestosa Paris, o Festival do Livro brilha como um farol para amantes das letras ao redor do mundo. Escritores e leitores se encontram em uma troca de idiomas e fronteiras, reafirmando o poder da literatura como linguagem universal.

Esses eventos não são apenas celebrações de livros, mas sobretudo a identidade cultural, a imaginação que nos une e a empatia que nos transforma. Em cada palavra escrita, em cada página, vivemos uma parte de nós mesmos, descobrindo novos mundos e nos conectando ao passado e ao futuro. Abril é mais do que o “mês dos livros”; é uma promessa de que histórias nunca deixarão de nos acompanhar.




Agência Estadual de Notícias - PR

Diário de Penápolis/Flipen - SP

Revide - SP

Tiradentes - MG

Mundo 


29 de mar. de 2025

ANISTIA: A MEMÓRIA QUE NÃO CURA

 
Charge: Carlos Latuff

Anistia: A Memória Que Não Cura.


Há países que carregam seus passados como cicatrizes, não como fantasmas. No Brasil, porém, a linha entre a cicatriz e o espectro é tênue. A anistia de 1979 foi um pacto de silêncio costurado com fios de esquecimento: perdoaram-se presos políticos e carrascos num mesmo gesto, como se a história pudesse ser equilibrada numa balança de retórica. O problema é que esquecer não cura. Somente adia a febre.

 

Quatro décadas depois, a pergunta ecoa: como anistiar outra vez quem jamais reconheceu o peso do que fez? A democracia brasileira, reconstruída sobre alicerces frágeis, aprendeu a andar mancando. Não por falta de coragem, mas porque alguns insistem em tropeçar nas próprias sombras. Os torturadores desse recente passado não se arrependeram; apenas se camuflaram sob novas roupagens. Tornaram-se políticos, empresários, vozes que sussurram nos corredores do poder que esse passado já passou. Mas o passado, mesmo, somente passa quando é olhado de frente.

 

A anistia, em sua essência, deveria ser um ato de generosidade, não de cumplicidade. Em 1979, o perdão foi uma moeda de troca para uma transição que preferiu a conciliação à justiça. O resultado? Um país que trata a memória como incômodo. As vítimas seguem à espera de um Nunca Mais que seja pronunciado sem hesitação, enquanto os algozes seguem invocando a legalidade de seus crimes. A impunidade, quando institucionalizada, vira um vírus. Contamina o presente, também.

 

Não é casual que o tema da anistia não mobilize multidões hoje. Ele nos lembra de uma ferida que nunca sangra, mas também nunca sara. É mais fácil discutir inflação ou futebol. A dor histórica, porém, tem um modo peculiar de ressurgir: nas rusgas políticas que repetem o autoritarismo como piada pronta, nas ameaças a instituições que ainda cheiram a pólvora, no desdém por direitos conquistados com lágrimas. Quem não aprende com o ontem, repete o ontem — mesmo que em tom pastelão.

 

Anistiar novamente seria como assinar um atestado de que a democracia é um acordo, não um valor. É confundir perdão com amnésia. O verdadeiro perdão, aquele que liberta, exige verdade. E a verdade não é uma negociata. É um espelho. Nele, o país precisa se enxergar: com suas cicatrizes, seus mortos não enterrados, suas promessas quebradas.

 

Talvez o Brasil precise de menos anistia e mais memória. Menos pactos nos gabinetes e mais nomes nos monumentos. Também menos medo de revirar o solo e mais coragem para plantar justiça onde houve deserto. Porque um país que perdoa sem exigir arrependimento é como um pai que acolhe o filho agressor sem perguntas: alimenta a violência que diz combater.


A democracia não se sustenta com perdões de araque. Ela se constrói quando as feridas são nomeadas, quando os algozes são obrigados a encarar o que fizeram, não pela punição, mas pelo dever de não mais repetir o sórdido erro. Enquanto o verbo “anistiar” for sinônimo de apagar, seguiremos tropeçando no mesmo abismo. O passado não pede vingança, pede apenas que não mintamos sobre ele. Afinal, como escreveu um sobrevivente das celas do DOI-CODI: 

“O silêncio dos inocentes é o aplauso dos carrascos”.

 

Que o Brasil não seja plateia de sua própria tragédia.



O Outro Lado da História👈 (vídeo Youtube

TV Senado👈 (vídeo Youtube)



14 de fev. de 2025

SE LIGA NESSE ROLÊ EDUCATIVO: É BOM DEMAIS!

 

Ilustração Pixabay

Se Liga Nesse Rolê Educativo: É Bom Demais!


Cara, vou te contar um segredo que tá bombando na net: tem um canal no YouTube que é a salvação pra quem tá se preparando pro ENEM e vestibulares. 

O barato é lúdico, um reforço de memorização com palavras-chaves animadas. Chama Se Liga Enem e Vestibulares. Não é aquela aula chata que você já tá de olho no relógio no primeiro slide. Não, mano! É tipo aquele professor que chega na sala com meme, piada de história e até explica a função quadrática. Tá achando que é brincadeira? 

Se liga no que esses caras aprontam! Primeiro, imagina você tentando decorar a diferença entre parnasianismo e simbolismo e, do nada, surge um vídeo com referência a "os poetas que são tipo influencers do século XIX".

É isso mesmo! Eles detonam os conteúdos mais complexos com uma linguagem teatral, com bom humor. E a História? Ah, meu parceiro, eles não deixam você dar branco na hora de argumentar. Ensina sem enrolação. 

É tipo chegar no rolê com um repertório coringa que impressiona até o revisor gramatical! E ainda tem dica de como fugir do clichê — nada de "desde os primórdios da humanidade", tá? O melhor é que eles não ficam só no blá-blá-blá.

Tem explicações comentadas, paródias, lembretes, resumos, resolução menos complicado de entender e mais fácil de você não travar na hora. E olha que os caras são pica das galáxias em todas as matérias das ciências humanas.

Sacou a jogada? Eles transformam o estudo num jogo — e você nem percebe que tá aprendendo. É aula com música, meme, "teatrinho", pincelando conteúdos. 

Então, se você tá cansado de videoaulas maçantes, chega mais, visite a plataforma sem compromisso. Segue, curte, compartilha — e quando passar no vestibular, me manda um salve! 

😏 Bom... é um começo.


🚀📚

SE LIGA👈

Grécia Antiga😂


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5 de fev. de 2025

ALGO ESTRANHO ACONTECE...

 
Ilustração-Pixabay-by-hobim

ALGO ESTRANHO ACONTECE...


Em um mundo onde a política se tornou um espetáculo, a administração de Donald Trump nos Estados Unidos se destacou por uma série de medidas que muitos consideram arbitrárias e, por vezes, francamente estranhas. Desde sua posse em 2017, Trump adotou um estilo de governança que mistura populismo, nacionalismo e uma dose generosa de imprevisibilidade. O resultado? Um governo que frequentemente deixa amigos e inimigos igualmente perplexos.


Uma das primeiras e mais polêmicas medidas foi a implementação da chamada "proibição muçulmana", uma ordem executiva que restringia a entrada de cidadãos de vários países de maioria muçulmana nos Estados Unidos. A justificativa era a segurança nacional, mas a medida foi amplamente criticada como discriminatória e contrária aos valores americanos de liberdade e inclusão. Os protestos foram imediatos e intensos, com aeroportos virando palco de manifestações e batalhas judiciais.


Outra medida que chamou a atenção foi a insistência na construção de um muro na fronteira com o México. Trump prometeu que o México pagaria por ele, algo que nunca aconteceu. Em vez disso, o governo americano acabou desviando fundos de outras áreas, incluindo o orçamento militar, para financiar a construção. O muro se tornou um símbolo da política de imigração dura de Trump, mas também uma fonte de controvérsia e divisão.


E quem poderia esquecer a relação tumultuada de Trump com a mídia? Ele frequentemente acusava veículos de comunicação de espalhar "fake news" e chegou a chamar a imprensa de "inimiga do povo". Essa retórica não apenas minou a confiança nas instituições jornalísticas, mas também levantou preocupações sobre a liberdade de imprensa em uma das democracias mais antigas do mundo (Grécia antiga).


A gestão da pandemia de COVID-19 foi talvez o capítulo mais controverso. Trump minimizou a gravidade do vírus, promoveu tratamentos não comprovados e frequentemente contradizia especialistas em saúde pública. Sua insistência em reabrir a economia rapidamente, mesmo com os números de casos subindo, foi vista por muitos como uma escolha entre dinheiro e vidas. O resultado foi um dos piores desempenhos no combate à pandemia entre os países desenvolvidos.


Mas talvez o mais estranho de tudo tenha sido a obsessão de Trump com a eleição de 2020. Mesmo antes da votação, ele começou a semear dúvidas sobre a integridade do processo eleitoral. Após sua derrota para Joe Biden, ele se recusou a conceder e lançou uma campanha sem precedentes para reverter os resultados, culminando no ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Esse evento chocou o mundo e levantou questões profundas sobre o futuro da democracia americana.


Fazendo um retrospecto, o governo Trump foi e parece que continuará outro período de extremos. Para seus apoiadores, ele é um líder que coloca "América First". Para seus críticos, ele é um presidente que governa por capricho, ignorando normas e instituições. Suas medidas são arbitrárias, são estranhas, seu governo é complexo, até bizarro...


Bem, estou indignado com o que está acontecendo com os norte-americanos, pelo menos durante o governo Trump. É um sentimento que ecoa a perplexidade de muitos ao redor do mundo, especialmente daqueles que reconhecem a riqueza cultural, literária, artística e musical dos Estados Unidos. Como pode um país que produziu figuras como Mark Twain, Ernest Hemingway, Toni Morrison, Bob Dylan, Nina Simone, e tantos outros que desafiaram as normas e inspiraram gerações, ser também o palco de um governo que muitas vezes parece desprezar justamente os valores que essas figuras representam?


O paradoxo é evidente. Os Estados Unidos são uma nação que se orgulha de ser um farol de liberdade, democracia e inovação. Sua literatura e arte frequentemente exploram temas de justiça, igualdade e resistência contra a opressão. No entanto, o governo Trump, com suas políticas de exclusão, sua retórica separatista e seu desprezo pelas instituições democráticas, parece caminhar na direção oposta. A "proibição muçulmana", a obsessão com o muro na fronteira com o México, o ataque constante à imprensa e o descaso com a pandemia de COVID-19 são exemplos de ações que contradizem os ideais que muitos associam ao espírito americano.


A eleição de 2020 e o subsequente ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 foram talvez o ápice desse paradoxo. Enquanto a literatura e a arte americanas frequentemente celebram a resistência contra a tirania e a defesa da democracia, o que vimos foi um presidente tentando deslegitimar uma eleição e incitando uma insurreição que ameaçou os pilares do sistema político americano. O contraste entre o ideal e a realidade é chocante.


E, sim, é impossível não traçar paralelos com o governo Bolsonaro no Brasil. O descaso com a pandemia, a promoção de tratamentos sem comprovação científica, o ataque às instituições democráticas e a retórica divisória são elementos que ecoam sobre o que vimos nos Estados Unidos. Em ambos os casos, há uma desconexão entre a riqueza cultural e histórica desses países e as ações de seus líderes são quase idênticas, não?


Eu não sou político, mas que tem algo errado, isso tem, por isso a indignação. Como pode um país que produz obras literárias que inspiram o mundo a buscar um futuro melhor ser também o cenário de tanta regressão e divisão? Elas nos lembram que a luta por justiça, igualdade e democracia é constante e que, mesmo em momentos de escuridão, há sempre a possibilidade de resistência e renovação.


Enquanto os Estados Unidos e o Brasil lidam com os legados complexos de governos recentes, é importante lembrar que a cultura e a arte continuam a ser ferramentas poderosas para questionar, resistir e imaginar um futuro melhor. São os reflexos, as consciências, e é através disso que podemos esperar por mudanças verdadeiras e duradouras, não é mesmo?