20 de abr. de 2025

DESCULPAS TARDIAS

 


Desculpas Tardias.

 

O senador Adam Schiff falou suave, comedido, como quem deposita solenemente rosas num túmulo de um soldado desconhecido. Agradeceu. Pode-se dizer que pediu perdão. Lamentou. Até citou histórias que já não importam também. Palavras bonitas para cobrir o que já está podre, afinal.

Do outro lado, o Canadá e, por que não, o México e o resto do mundo que também escutam, mas cada qual não esquece o passado sofrido. Trump partiu algo que não se cola com discursos, a confiança exige mais do que isso. 

E o que é ainda pior: cerca de quarenta por cento dos norte-americanos ainda acreditam no homem que quebrou essa mesma confiança. Quarenta por cento que ainda sorriem como se o mundo devesse se curvar diante dele.

O que se vê é o sol se pondo sobre estas relações mortas, enquanto Schiff ainda rega as cinzas com mel. Tarde demais, não? Sim, é como o murmúrio lamentoso de um velho caçador que erra o tiro e vê a fera sumir no meio da floresta. Olha-se o cartucho sobre a relva, o rifle ainda fumega, e agora resta o silêncio entre os parceiros que antes caminhavam, lado a lado, mas isso também pouco importa, ninguém reconhece mais o passo um do outro. 


TheMXFan/youtube👈 (vídeo dublado em português)

Adam Schiff/Instagram (inglês)👈(vídeo em inglês)


13 de abr. de 2025

GREVE DE FOME NO PLENÁRIO


img-reprodução/BNews



Greve de Fome no Plenário.


Ele já está no quarto dia sem comer. Dorme no plenário, sobre um colchão de ar. O clima é pesado. Glauber Braga permanece sentado, as costas contra a parede, olhos fixos nas cadeiras vazias. Os opositores do conselho votaram pela cassação como deputado federal. Querem tirar seu mandato a qualquer preço. Não, a qualquer preço, não. Houve um preço. Um preço alto. Todos sabem disso. 

Começou pelos militantes do MBL. Eles invadem escolas, universidades, plenários, buscando selar views infames nas redes sociais. São línguas venenosas, mais afiadas, sobretudo, profissionalmente sórdidas, provocativas. Com o que aconteceu com Glauber, só quem tem sangue de barata aguentaria. Xingaram sua mãe, quando ela estava hospitalizada com sérios problemas de saúde, inclusive vindo a óbito no mês seguinte.

Isso foi mesmo insuportável. Dolorido ter que tolerar. Tudo tem um limite. A falta de decoro já acontecia há bastante tempo contra ele. Ouvir aquelas ofensas foi pior. O Glauber deu um pontapé na bunda deles todos, pode-se dizer. Isso foi filmado. As imagens rodaram por dias a fio, todo mundo viu e eles fugiram como sempre fazem.  

Agora, greve de fome. Questão de honra, dignidade. Imagine aqueles ‘meninos’ no plenário querendo falar de ética, vê se pode uma coisa dessas. O buraco é mais embaixo. Glauber fala de Arthur Lira. Uma casa de dez milhões foi o preço dele, por exemplo. O salário de um deputado com os impostos de um deputado… Os números não batem. 

Lá fora, o sol queima e o ar é sempre seco. Dentro, um homem definha. As paredes observam. Hoje, eles tentam calar a voz dele, 'amanhã vão querer calar a voz de qualquer um que venha se insurgir contra essa prática corrupta do orçamento secreto'. É assim que eles querem que as coisas fiquem. Sua decisão, então, foi tomada: não come, não arreda o pé do plenário até a situação se resolver. 


#GlauberFica #PolíticaLimpa 


facebook/glauber.braga

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10 de abr. de 2025

O CUSTO

 

Ilustração-pixabay


O Custo.

 

O homem, a cara amarrada, senta-se à mesa da cozinha. A conta de luz está aberta, o café frio. A tarifa chega como um inverno precoce: 125% sobre coisas feitas na China. Ele olha para os tênis novos do filho, comprados em abril. Agora custa o dobro. Não, mais que o dobro. A matemática é simples. A vida, não.

Nas ruas, as lojas anunciam liquidação. “Estoque limitado”, dizem. Donos de bikeshops encostam bicicletas chinesas contra as paredes vazias. Um fazendeiro do Nebraska vende dois tratores. A soja não vale mais nada. Os chineses compram do Brasil.

Nas docas, os contêineres esperam. Homens de coletes laranjas fumam em silêncio. “México”, alguém disse. “Vietnã.” As empresas grandes já têm mapas novos. O resto fica ali, parado, como peixe em rede seca.

A mulher no supermercado segura uma panela. Made in USA. O custo: cinquenta dólares. Antes, a chinesa custava vinte. Ela coloca a panela de volta na prateleira. Decide comprar arroz e feijão enlatado. Na fila, um velho conta que o remédio para o coração subiu 80%. Ninguém fala de comércio livre. Falam do gás, do leite, da neve que virá no próximo ano.

À noite, na TV, um homem de gravata grita sobre inimigos e vitórias. O homem da cozinha desliga o aparelho. Olha para a esposa, que costura um casaco rasgado. Ela não levanta os olhos. Sabe o que vem. Sabe que guerras — mesmo as de tarifas, mesmo as sem balas — sempre escassa a comida, o remédio, o pão dos que não estão nos discursos.

É assim. Você constrói um muro pra manter o mundo lá fora, longe de tudo. Só não dizem que o muro também tranca você aqui dentro. Com o preço da proteção nas costas e o vento frio entrando pelas frestas. Pior, o custo da calefação também está nas alturas.





2 de abr. de 2025

O MÊS DOS LIVROS E HISTÓRIAS

 

img ilustração CDJ

O Mês dos Livros e Histórias.
 

Para quem se perde em páginas e histórias, abril é um convite à celebração. Esse é o mês em que a literatura floresce com intensidade, assim como a primavera em algumas partes do mundo. É o momento de encontros com autores, leitores e personagens que habitam as mais diversas obras.

No Brasil, o cenário não poderia ser mais encantador. Curitiba se transforma em palco literário com a Literatiba, reunindo vozes que dialogam em torno de ideias e palavras. Já Penápolis anima os jovens leitores com a Flipen, cheia de contos e oficinas. Em Ipuã, o aroma de livros preenche o ar durante a Feira do Livro, levando cultura a cada esquina. Tiradentes, por sua vez, respira literatura em seu centro histórico com a FLITI, onde livros e tradições se entrelaçam.

E além-mar, na majestosa Paris, o Festival do Livro brilha como um farol para amantes das letras ao redor do mundo. Escritores e leitores se encontram em uma troca de idiomas e fronteiras, reafirmando o poder da literatura como linguagem universal.

Esses eventos não são apenas celebrações de livros, mas sobretudo a identidade cultural, a imaginação que nos une e a empatia que nos transforma. Em cada palavra escrita, em cada página, vivemos uma parte de nós mesmos, descobrindo novos mundos e nos conectando ao passado e ao futuro. Abril é mais do que o “mês dos livros”; é uma promessa de que histórias nunca deixarão de nos acompanhar.




Agência Estadual de Notícias - PR

Diário de Penápolis/Flipen - SP

Revide - SP

Tiradentes - MG

Mundo 


29 de mar. de 2025

ANISTIA: A MEMÓRIA QUE NÃO CURA

 
Charge: Carlos Latuff

Anistia: A Memória Que Não Cura.


Há países que carregam seus passados como cicatrizes, não como fantasmas. No Brasil, porém, a linha entre a cicatriz e o espectro é tênue. A anistia de 1979 foi um pacto de silêncio costurado com fios de esquecimento: perdoaram-se presos políticos e carrascos num mesmo gesto, como se a história pudesse ser equilibrada numa balança de retórica. O problema é que esquecer não cura. Somente adia a febre.

 

Quatro décadas depois, a pergunta ecoa: como anistiar outra vez quem jamais reconheceu o peso do que fez? A democracia brasileira, reconstruída sobre alicerces frágeis, aprendeu a andar mancando. Não por falta de coragem, mas porque alguns insistem em tropeçar nas próprias sombras. Os torturadores desse recente passado não se arrependeram; apenas se camuflaram sob novas roupagens. Tornaram-se políticos, empresários, vozes que sussurram nos corredores do poder que esse passado já passou. Mas o passado, mesmo, somente passa quando é olhado de frente.

 

A anistia, em sua essência, deveria ser um ato de generosidade, não de cumplicidade. Em 1979, o perdão foi uma moeda de troca para uma transição que preferiu a conciliação à justiça. O resultado? Um país que trata a memória como incômodo. As vítimas seguem à espera de um Nunca Mais que seja pronunciado sem hesitação, enquanto os algozes seguem invocando a legalidade de seus crimes. A impunidade, quando institucionalizada, vira um vírus. Contamina o presente, também.

 

Não é casual que o tema da anistia não mobilize multidões hoje. Ele nos lembra de uma ferida que nunca sangra, mas também nunca sara. É mais fácil discutir inflação ou futebol. A dor histórica, porém, tem um modo peculiar de ressurgir: nas rusgas políticas que repetem o autoritarismo como piada pronta, nas ameaças a instituições que ainda cheiram a pólvora, no desdém por direitos conquistados com lágrimas. Quem não aprende com o ontem, repete o ontem — mesmo que em tom pastelão.

 

Anistiar novamente seria como assinar um atestado de que a democracia é um acordo, não um valor. É confundir perdão com amnésia. O verdadeiro perdão, aquele que liberta, exige verdade. E a verdade não é uma negociata. É um espelho. Nele, o país precisa se enxergar: com suas cicatrizes, seus mortos não enterrados, suas promessas quebradas.

 

Talvez o Brasil precise de menos anistia e mais memória. Menos pactos nos gabinetes e mais nomes nos monumentos. Também menos medo de revirar o solo e mais coragem para plantar justiça onde houve deserto. Porque um país que perdoa sem exigir arrependimento é como um pai que acolhe o filho agressor sem perguntas: alimenta a violência que diz combater.


A democracia não se sustenta com perdões de araque. Ela se constrói quando as feridas são nomeadas, quando os algozes são obrigados a encarar o que fizeram, não pela punição, mas pelo dever de não mais repetir o sórdido erro. Enquanto o verbo “anistiar” for sinônimo de apagar, seguiremos tropeçando no mesmo abismo. O passado não pede vingança, pede apenas que não mintamos sobre ele. Afinal, como escreveu um sobrevivente das celas do DOI-CODI: 

“O silêncio dos inocentes é o aplauso dos carrascos”.

 

Que o Brasil não seja plateia de sua própria tragédia.



O Outro Lado da História👈 (vídeo Youtube

TV Senado👈 (vídeo Youtube)