29 de out. de 2024

UM REENCONTRO INESPERADO

 

Ilustração Pixabay

Um Reencontro Inesperado.

O Dia do Livro sempre me leva a uma jornada nostálgica, repleta de lembranças agridoces. A alegria pela celebração desse objeto tão especial contrasta com a tristeza de uma perda que, por muito tempo, marcou minha vida.

Quando era mais jovem, a necessidade me obrigou a decidir com tristeza: vender parte da minha biblioteca. Cada livro que colocava na caixa de papelão era como se estivesse me despedindo de um velho amigo. Aquele dia, ao levar os livros para o sebo, senti como se estivesse vendendo um pouco da minha alma.

Com o passar dos anos, a vida seguiu seu curso, e a biblioteca foi sendo reconstruída lentamente. Mas a saudade daqueles primeiros livros sempre esteve presente.

Um dia, passeando pelo centro da cidade, me deparei com uma livraria de sebo. Entrei por curiosidade e, ao me deparar com as estantes repletas de livros usados, senti um frio na barriga. Comecei a percorrer os corredores, passando os dedos pelas lombadas, buscando algum título familiar. E então, lá estava ele: um dos livros que havia vendido anos atrás.

A emoção foi tão grande que mal consegui acreditar no que meus olhos viam. Segurei o livro em minhas mãos, sentindo a mesma textura do papel, o mesmo cheiro de tinta. Era como se o tempo tivesse parado. Naquele momento, todas as lembranças daquela época voltaram à minha mente.

Ao pagar pelo livro, senti uma alegria indescritível. Era como se tivesse reencontrado um velho amigo perdido. Ao voltar para casa, abri o livro e comecei a ler, sentindo a mesma emoção da primeira vez.

Essa experiência me mostrou que, mesmo que a vida nos obrigue a tomar decisões difíceis, a esperança de reencontrar o que perdemos nunca se apaga. E os livros, com sua capacidade de transportar-nos para outros mundos e conectar-nos com diferentes realidades, são um dos maiores tesouros que podemos ter.

O Dia do Livro é uma celebração não apenas da literatura, mas também da memória e da esperança. É um convite para celebrarmos a vida, a amizade e a magia das palavras.


Ler é bom.





12 de out. de 2024

UM DIA DE CONTRADIÇÕES

 

Ilustração Pixabay

UM DIA DE CONTRADIÇÕES.


Hoje, 12 de outubro, o Brasil se divide em duas celebrações: o Dia das Crianças e o Dia de Nossa Senhora Aparecida. Enquanto famílias se reúnem para celebrar a pureza e a inocência da infância, notícias de guerra ecoam do Oriente Médio, nos lembrando do lado mais sombrio da humanidade.

Confesso que, apesar da alegria de estar cercado por meus filhos e netos, um peso enorme se instala em meu peito. A cada sorriso infantil, a cada abraço apertado, a imagem de crianças em outras partes do mundo, aterrorizadas e órfãs, se torna cada vez mais presente.

Como podemos celebrar a vida em um mundo tão marcado pela morte? Como podemos nos sentir felizes em um dia como hoje, sabendo que milhares de pequenos corpos são dilacerados por bombas e balas? É uma contradição que me atormenta e me faz questionar o sentido da existência.

Sinto-me privilegiado por ter a oportunidade de celebrar este dia em família, mas também me sinto culpado. É como se estivesse participando de uma festa em meio a um velório. A alegria parece deslocada diante de tanto sofrimento.

Nossa Senhora Aparecida, símbolo de fé e esperança, nos ensina a amar ao próximo como a nós mesmos. Mas como amar ao próximo quando ele está tão distante, sofrendo tanto? Como manter a fé diante de tanta crueldade?

Neste dia, mais do que nunca, sinto a necessidade de rezar por todas as crianças do mundo, especialmente por aquelas que estão sofrendo as consequências de guerras injustas. Que a paz possa prevalecer e que todas as crianças cresçam em um mundo livre de violência.

Que Nossa Senhora Aparecida interceda por nós, para podermos transformar este mundo em um lugar mais justo e humano. Sim. Que a alegria da infância possa ser um direito de todos, e não um privilégio de poucos.

Em meio a tanta tristeza, a fé me impulsiona a seguir em frente. Acredito que a compaixão e a solidariedade ainda podem mudar o mundo. E é com esse sentimento que encerro esta crônica, na esperança de que possamos construir um futuro mais justo e humano para todas as crianças do planeta.



10 de out. de 2024

A MALDIÇÃO DO REVISOR EM MIM

Ilustração OpenClipart-Pixabay


 A MALDIÇÃO DO REVISOR EM MIM.

 

Sou um autor, um escritor, um criador de mundos, um arquiteto de frases… quer dizer, acho que sou, não sei bem, às vezes tenho dúvidas disso, talvez eu seja um revisor incansável, um editor implacável e um crítico literário impiedoso… comigo mesmo.

A cada palavra que escrevo, um exército de dúvidas se levanta, um batalhão de “e se” invade minha mente. Sim, esta palavra está boa? E se eu trocasse por outra? Será que o adjetivo combina? Pior. Será que a frase inteira é essa? Pior ainda, a história é essa mesma? Hum, e se eu… 

E assim, a dança frenética entre a criação e a destruição se inicia. É como se eu tivesse dentro de mim um revisor insano, cruel, quiçá até mesmo seja um sádico, que se aproveita da minha fragilidade ou insegurança intelectual, tomando conta de tudo.

A cada releitura, descubro um novo erro, uma nova possibilidade, uma nova ideia que, claro, exige a reescrita de tudo o que já foi escrito até aqui! É um ciclo vicioso, um labirinto sem fim, uma espiral descendente rumo à loucura!

Já tentei de tudo pra conter esse impulso autodestrutivo. Tentei escrever em blocos de notas, em guardanapos, em papéis amassados. Já tentei ditado, gravação, escrita automática. Nada funciona. A obsessão pela perfeição me persegue como uma sombra.

E o pior de tudo é que, por mais que me esforce, nunca consigo ficar satisfeito no final. Sempre acho que poderia ser melhor, mais brilhante, impactante. É como se estivesse condenado, não adianta, por mais que me aproxime da ideia, ela sempre se afasta de mim.

O problema é que essa busca incessante pela palavra certa, pela frase perfeita, se torna um labirinto sem fim... viu só? Também repetitivo! Começo a reescrever parágrafos, a mudar a ordem das cenas, a alterar completamente a história, do começo ao fim! É um ciclo vicioso que me consome inteiramente!

A cada revisão, a história se transforma em uma criatura mutante, nunca ficando completamente como deveria ser, nada a ver com sua própria forma, estrutura, enfim, nunca consigo chegar à versão definitiva, sempre falta alguma coisa...

Ah, se ao menos tivesse leitores que comprassem meus livros… poxa, eu teria condições de contratar um revisor profissional, então finalmente me livraria da maldição do revisor interno e pararia de jogar minhas histórias na lata de lixo.

Enquanto isso não acontece, paciência, continuo preso nesse ciclo infernal. Sinceramente, acho que não sou um escritor, já estou começando a achar que sou, mesmo, um revisor torturante, talvez seja mais fácil me dedicar a esse ofício… quiçá eu não desenvolveria melhor meu sadismo... ou será masoquismo?