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Ilustração OpenClipart-Pixabay |
A MALDIÇÃO DO REVISOR EM MIM.
Sou um autor, um escritor, um criador de mundos, um
arquiteto de frases… quer dizer, acho que sou, não sei bem, às vezes tenho
dúvidas disso, talvez eu seja um revisor incansável, um editor implacável
e um crítico literário impiedoso… comigo
mesmo.
A cada palavra que escrevo, um exército de dúvidas se
levanta, um batalhão de “e se”
invade minha mente. Sim, esta palavra está boa? E se eu trocasse por outra?
Será que o adjetivo combina? Pior. Será que a frase inteira é essa? Pior ainda,
a história é essa mesma? Hum, e se eu…
E assim, a dança frenética entre a criação e a destruição se
inicia. É como se eu tivesse dentro de mim um revisor insano, cruel, quiçá até
mesmo seja um sádico, que se aproveita da minha fragilidade ou insegurança
intelectual, tomando conta de tudo.
A cada releitura, descubro um novo erro, uma nova possibilidade, uma nova ideia que, claro, exige a reescrita de tudo o que já foi escrito até aqui! É um ciclo vicioso, um labirinto sem fim, uma espiral descendente rumo à loucura!
Já tentei de tudo pra conter esse impulso autodestrutivo.
Tentei escrever em blocos de notas, em guardanapos, em papéis amassados. Já
tentei ditado, gravação, escrita automática. Nada funciona. A obsessão pela perfeição
me persegue como uma sombra.
E o pior de tudo é que, por mais que me esforce, nunca
consigo ficar satisfeito no final. Sempre acho que poderia ser melhor, mais
brilhante, impactante. É como se estivesse condenado, não adianta, por mais que
me aproxime da ideia, ela sempre se afasta de mim.
O problema é que essa busca incessante pela palavra certa, pela frase perfeita, se torna um labirinto sem fim... viu só? Também repetitivo! Começo a reescrever parágrafos, a mudar a ordem das cenas, a alterar completamente a história, do começo ao fim! É um ciclo vicioso que me consome inteiramente!
A cada revisão, a história se transforma em uma criatura mutante, nunca ficando completamente como deveria ser, nada a ver com sua própria forma, estrutura, enfim, nunca consigo chegar à versão definitiva, sempre falta alguma coisa...
Ah, se ao menos tivesse leitores que comprassem meus livros… poxa, eu teria condições de contratar um revisor profissional, então finalmente me livraria da maldição do revisor interno e pararia de jogar minhas histórias na lata de lixo.
Enquanto isso não acontece, paciência, continuo preso nesse ciclo infernal. Sinceramente, acho que não sou um escritor, já estou começando a achar que sou, mesmo, um revisor torturante, talvez seja mais fácil me dedicar a esse ofício… quiçá eu não desenvolveria melhor meu sadismo... ou será masoquismo?