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Ilustração-Geralt-Pixabay |
A CAMISA DIVIDIDA DA SELEÇÃO.
Eu nunca imaginei que um pedaço de tecido pudesse carregar tanto peso. A camisa amarela da seleção brasileira, antes um símbolo de alegria despretensiosa, virou uniforme de guerra cultural. Em 2018, ainda era possível ver crianças, avós, torcedores de todo tipo vestindo-a sem pensar em política. Em 2022, porém, o manto sagrado do futebol ficou completamente sequestrado — ou pelo menos é assim que muitos passaram a enxergar.
O amarelo, que já foi cor de gol de Pelé, de comemoração de Romário, de drible de Garrincha, virou bandeira de um lado só. E, como acontece quando algo coletivo vira propriedade particular, o incômodo cresceu. Há quem, hoje, prefira ver a seleção perder — de 7 a 1, quem sabe — só para não alimentar a narrativa que se apropriou dela. A CBF, pressionada, anunciou mudanças: dizem que o vermelho pode substituir o tradicional verde-amarelo. Mas será que trocar uma cor por outra resolve, ou só empurra o problema para outro lugar?
A Itália joga de azul, a Holanda de laranja — cores que não estão em suas bandeiras, mas que ninguém questiona. O Brasil, porém, é um país que vive em conflito até com suas próprias cores. Talvez o problema não esteja no amarelo, no verde ou no vermelho, mas na insistência de que uma só tonalidade pode representar 200 milhões de histórias diferentes.
Por que não criar uma camisa tão plural quanto o país? Uma mistura de cores, como um mosaico de identidades, onde verde, amarelo, azul, vermelho — e todas as outras — coexistissem sem hierarquia. E se, em vez de decisões a portas fechadas, a escolha fosse feita em um concurso aberto, onde torcedores, artistas ou mesmo crianças desenhassem o novo manto da seleção?
No fim, o futebol sempre foi democrático. Talvez seja hora de a camisa também ser.