21 de set. de 2025

CRÔNICA DA PEC DA 'BLINDAGEM' (BANDIDAGEM)

 



Crônica da PEC da ‘Blindagem’ (Bandidagem).



Nos corredores de mármore, onde o poder se move em sussurros e ofícios, forjaram um escudo. Chamaram-no de emenda, de prerrogativa, mas o seu verdadeiro nome nasceu longe dali, no éter anônimo e brutal das redes. A 'PEC da Blindagem'; na verdade, 'PEC da Bandidagem', foi o batismo de fogo dado por uma nação que viu na manobra não o fortalecimento da democracia, mas a armadura da impunidade. Enquanto a caneta dos deputados corria célere para aprovar o texto, selando um pacto de autoproteção que transcendia partidos, uma fúria digital se avolumava. O que era um murmúrio de indignação tornou-se um maremoto, uma onda de repúdio que não pedia licença, traduzindo o ‘juridiquês’ na hashtag: #CongressoInimigoDoPovo. A conspiração do silêncio oficial foi rompida pelo barulho ensurdecedor de milhões.

Aquele clamor virtual, incorpóreo, não se contentou em existir como dados e píxeis. Ele transbordou, ganhou corpo, suor e voz, descendo para o asfalto quente das capitais. O Brasil respondeu ao chamado. No Rio, a melodia de velhos hinos de resistência uniu gerações em Copacabana. Em São Paulo, uma bandeira imensa, resgatada das mãos que a haviam sequestrado, flutuou sobre um mar de gente na Paulista. Em Brasília, a multidão marchou sobre a Esplanada, numa peregrinação laica ao coração do poder para entregar sua mensagem em cartazes e gritos. De Salvador a Curitiba, a revolta tomou a forma de um carnaval democrático, de um varal da vergonha, da teimosia de corpos que se recusavam a dispersar sob a chuva. O país converteu a fúria do éter em um ato físico, uma afirmação de que a rua ainda lhe pertencia.
 
O eco daquela gente na rua viajou de volta a Brasília, mas desta vez não bateu em portas fechadas. Entrou pelas frestas do Senado, onde a proposta foi recebida com a frieza de um corpo estranho, e ricocheteou de volta à Câmara, forçando deputados a recuos públicos, a confissões de covardia. A vitória, no entanto, não trouxe o alívio doce da paz, mas o gosto de uma trégua inquieta. A PEC foi ferida de morte, mas a doença que a gerou, a soberba de uma casta que se julga acima da nação, permaneceu. O asfalto se aquietou, mas a memória digital continua a zumbir, vigilante. A batalha foi vencida no grito, mas a guerra por uma República onde a lei seja, de fato, a mesma para todos, essa ainda aguarda seu fim.

Nas próximas eleições, vamos votar com mais responsabilidade, escolhendo um Congresso e Senado que respeite a Soberania, a Democracia e a Constituição.