12 de set. de 2025

O PESO DA CANETA E A ESPADA DA LEI

 

img Gemini IA

O Peso da Caneta e a Espada da Lei.


Um velho pescador uma vez me disse: 


“Um homem deve enfrentar o mar e suas tormentas, mas nenhuma tempestade é maior do que a que um homem cria para si próprio.”


Aqui, nestes trópicos de paixões fervilhantes, a espada da lei desceu com o peso frio do aço. Vinte e sete anos. Não é um número redondo, poético. É um número áspero, pesado, calculado. É o som de uma porta de ferro fechando-se não, a um mandato, mas a uma vida política.


O Supremo Tribunal Federal, em sua magistratura solene, não julgou um homem; julgou um conceito. Julgou a ideia de que a autoridade é um salvo-conduto para a insubordinação, de que o poder concede o direito de torcer a verdade até que ela se assemelhe a uma ficção perigosa.


Eles o condenaram por suas palavras, por seus acenos, por seus sussurros em saletas e por seus gritos em praças cheias. Condenaram o arquiteto pelo que suas criaturas fizeram; o maquinista, pelo descarrilamento do trem. Foi a sentença que muitos, em outras terras, esperavam ver.


Do outro lado do equador, em uma nação vista como farol, um homem similar incendiou a praça com gasolina retórica e depois contemplou o incêndio.


A invasão ao Capitólio não foi uma revolta espontânea; foi um ato encenado, o epílogo previsível de um espetáculo de meses. As pessoas não foram meramente incentivadas; foram instrumentalizadas. Elas escalaram paredes, quebraram vidraças, e no rosto delas estava não a fúria da razão, mas o êxtase da obediência cega.


Trump olhou, consentiu e certamente sorriu. A história exigia uma resposta à altura. Exigia que a espada da lei cortasse com a mesma veemência e precisão com que cortou aqui, mas lá, o sistema vacilou. As engrenagens da justiça moveram-se com a lentidão de um rio entupido de tralha política.


Ele foi julgado, sim, mas pela boca do povo nas urnas, não pela mão firme dos togados. A justiça legal ficou aquém. O preço que pagou foi a derrota, não a prisão. Um preço baixo para quem quase quebrou a espinha dorsal de uma grande democracia.


Aqui, a lição foi diferente. O STF não mediu a sentença pela popularidade do réu ou pelos ventos políticos do momento. Mediu-a pela gravidade dos atos, pela tentativa de rasgar o contrato social que nos mantém civilizados. Vinte e sete anos é uma sentença para que os livros de história a registrem não como uma vingança, mas como um lembrete: ninguém está acima da República.


A diferença crucial é esta: enquanto em algumas praças a justiça ainda debate se deve pescar com rede ou com arpão, aqui lançou o arpão no peixe grande. E acertou em cheio.


Não se celebra a queda de um homem. Celebra-se a ascensão de um princípio. O princípio de que as palavras têm consequências, que o poder é empréstimo e ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de atear fogo no telhado da casa que abriga a todos nós.


O velho pescador sabia. Um homem que provoca a tempestade deve estar preparado para naufragar nela. Sozinho. E a justiça, quando verdadeira, não é um salva-vidas. É o farol que mostra os rochedos onde os irresponsáveis se arrebentam.


Aqui, o farol funcionou. Lá, do outro lado, somente piscou… e o mundo todo estava olhando.