17 de dez. de 2025

O IMPÉRIO CONTRA A ESPERANÇA

 

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Eles falam de liberdade. Falam dela com a boca cheia de aço e o hálito quente de discursos em salas com ar condicionado. O homem na Casa Branca, o de cabelo como feno sob vento forte, fala mais alto. Fala de “todas as opções”. Fala de “paz” com os punhos cerrados.


Se Hemingway estivesse vivo, diria haver um velho truque de toureiro: aquele de agitar o capote vermelho até a fera ficar exausta, até o seu próprio sangue a sufocar. Mas quem é o touro e quem é o toureiro? A confusão é feita deliberadamente para confundir a todos.


A Venezuela está doente. Isso, um homem sentado num bar de Maracaibo, com o suor escorrendo pelo copo vazio, até pode dizer com verdade mais profunda que qualquer relatório. É uma dor vista nos ossos do povo, na curva dos ombros das mulheres na fila, no silêncio das crianças. É uma dor seca, dura, que não se cura com discursos de outra terra. A fome não ouve rádio. A sede não vê bandeiras.


Mas o homem da Casa Branca não vê a dor. Vê somente o petróleo negro sob a terra e o espectro que lhe convém, um fantasma útil para fazer a multidão em seu país olhar para longe, unida pelo medo de um inimigo. É uma estratégia antiga. Mais antiga que as colinas. Você cria um demônio no quintal do vizinho para vender mais armas, para parecer mais forte, para que ninguém note o vazio nas próprias prateleiras.


Guerra não é uma coisa que se anuncia com palavras quentes em um púlpito. Ela começa devagar. Primeiro, são as palavras. Depois, o dinheiro que se congela e sufoca como um lago no inverno; os navios que aparecem no horizonte, pontos cinzentos como dentes de tubarão. E depois… depois vem o que sempre vem. Os homens bons morrem por causas que não entenderam. As mulheres choram em portas que não têm mais marcos. As crianças, sempre as crianças, herdam a paisagem arrasada.


É fácil mandar um porta-aviões. É difícil mandar um médico. É fácil decretar um bloqueio, mas é difícil construir uma ponte. A verdadeira coragem, a coragem límpida e dura como gelo, não está na ameaça. Estaria no gesto inesperado. Na mão estendida, sem exigir que o outro se ajoelhe primeiro. Mas isso não dá manchetes. Não enche os olhos daqueles que desejam ver impérios cair, mesmo que seja o império da esperança de um povo.


E assim, enquanto os homens de gravata decidem destinos com canetas sobre mapas, o povo — sempre o povo — espera na fila. Sob o sol implacável do Caribe, com o estômago roncando de vazio, eles ouvem o rumor distante do trovão. Não é a chuva que se aproxima. É a tempestade que os poderosos estão cozinhando, em fogo brando, em seus gabinetes refrigerados.


A guerra é um fracasso. Um fracasso da imaginação, da paciência, da humanidade básica. É a confissão de que não se consegue pensar em mais nada. O homem que a promete como se fosse uma solução é um homem pobre de espírito. E os pobres, os verdadeiramente pobres, serão sempre os primeiros a pagar a conta. Com o seu pouco, com o seu tudo. Com a sua própria luz, que se apaga facilmente.