
Imagem blog Escrevinhados
O Maracujá Mal-Assombrado.

A história que estou prestes a contar parece surreal,
rocambolesca, mas garanto que cada palavra é verdadeira.
Tudo começou com um presente aparentemente inofensivo: uma
muda de maracujá. Sim, apenas uma muda. Mas não qualquer muda, esta era
especial. Era um presente de Mestre Jauri, um capoeirista cultivador de plantas
conhecido por suas técnicas místicas e sussurros de bruxaria.
Ele me garantiu que ela cresceria e daria muitos saborosos
frutos suculentos, porém advertiu: fique sempre de olho, às vezes nem tudo é o
que parece ser.
Encantado pela beleza da planta, decidi plantá-la em meu
pátio, imaginando-a crescendo sob o sol, dando frutos suculentos e
refrescantes.
O que eu não sabia, porém, era que a muda de maracujá de
Mestre Jauri era diferente. Ela tinha um lado obscuro, uma sede de vingança que
logo se manifestaria.
Noites se transformaram em semanas, semanas em meses, e a planta
crescia a um ritmo acelerado, como se estivesse sendo alimentada por alguma
força extraordinária. Sim, os galhos se entrelaçavam como tentáculos famintos,
buscando frestas e aberturas para se expandir.
A cada dia, o maracujá se tornava mais imponente, mais
sinistro. Porém, todos os dias, bebia litros do seu suco precioso,
esquecendo-me de cuidá-la, repará-la, como me avisara o cultivador Mestre
Jauri.
Certa manhã, ao acordar, senti um arrepio na espinha. Algo
não estava certo. As paredes do meu quarto, que ficava no andar superior da
casa, pareciam mais úmidas, como se algo verde e viscoso as estivesse
invadindo. Abri os olhos devagar, e o que vi me fez gelar a alma.
Galhos de maracujá, como cobras, entrelaçavam-se em torno da
minha cama, seus ramos afiados roçando meu rosto. As folhas, antes verdes e
brilhantes, agora estavam amareladas e murchas, exalando um odor pútrido que me
enjoava. A planta, outrora inofensiva, havia se tornado um monstro vegetal que
me cercava, me sufocava.
Em pânico, tentei me livrar dos galhos, mas eles eram fortes demais. Eu me sentia preso, como um inseto em uma teia de aranha. De repente, um pensamento horripilante me ocorreu: Mestre Jauri é um bruxo! Ele havia me alertado, avisado que nem tudo é o que parece ser! A planta me fornecia sucos deliciosos, mas como castigo de não a cuidar, como avisara o mestre Jauri, agora ela me punia por arrancar seus frutos sem cuidá-la como deveria!
Com um grito de desespero, me agarrei aos galhos e os
arranquei com todas as minhas forças. A planta soltou um gemido gutural e se
retraiu para o pátio, deixando para trás um rastro de folhas murchas e espinhos
afiados.
Eu estava livre, mas ainda traumatizado. A partir daquele
dia, nunca mais olhei para um maracujá da mesma maneira, hoje vivo com a tesoura de poda no bolso, não convém se arriscar.
A história do maracujá assombrado me ensinou uma lição
valiosa:
Nem todos os presentes também não são o que parecem ser. Às vezes, a
beleza esconde um lado sombrio, e a inocência pode se transformar em terror.
Quem sabe, em algum canto remoto do mundo, Mestre Jauri
ainda cultiva suas plantas amaldiçoadas, à espera de novas vítimas desatentas às brincadeiras macabras…
😕