O VERBO DESISTIR ESTÁ EM VOGA





O VERBO DESISTIR ESTÁ EM VOGA


Volta e meia tenho dúvida com a palavra. Sim, outro dia fui procurar a palavra desistência. Não lembro qual foi o motivo. Bem, não importa isso agora. O importante é a gente sempre acabar descobrindo algo mais. Sim, por exemplo: todo mundo sabe que a palavra desistência vem do verbo desistir. No entanto, possui vários significados similares. Sim, a começar por dar sentido ao ato de abdicação que se deseja, algo do tipo abstinência, renúncia, desinteresse, retratação, não prosseguir em um intento planejado, prescindir voluntariamente, abster-se de algo, enfim, no modo mais popular, dar no pé, abandonar o barco, desistir de uma luta, uma ideia. Até aí, tudo bem, isso vem se repetindo conceitualmente da própria linguagem em questão. Já pelo termo informal, coloquial, em modo mais chulo, o verbo desistir também pode significar defecar, evacuar, caramba, juro que não sabia. Penso que, se tivesse procurado no dicionário impresso, não teria notado, quiçá essa definição nem existisse.

Achei interessante o dicionário de português elaborado pelo Google. São caixas dum vasto dicionário virtual proporcionado por Oxford Languages. As caixas mostram definições de fonte especializada de terceiros e podem incluir imagens, pronúncias, traduções e outras informações também relacionadas com links associados ao nosso idioma. Isso facilita a pesquisa. Muitas vezes uma ideia puxa outra. Isso é comum acontecer em uma conversa, uma leitura ou reflexão, a gente acaba ligando o raciocínio a outra lembrança associada com a palavra da qual estamos pensando ou procurando.

Digo tudo isso porque estava há pouco lendo no jornal manchetes de notícias como estas:

Milton Ribeiro, ministro da educação, desistiu do acesso prévio das questões do Enem; Mamãe Falei desistiu de querer ser governador; o Partido Liberal desistiu de censurar Lollapalooza; Milton Ribeiro, de novo desistiu de continuar como ministro da educação; Luciano Hang desistiu de querer ser senador; deputado Daniel Silveira desistiu de continuar dormindo na câmara; Queiroga desistiu de decretar o fim da pandemia; Eduardo Leite desistiu de ser governador; João Dória desistiu de ser governador, pois é, ele também; Sérgio Moro desistiu de querer ser presidente…

Epa! Suponho que o último nome chamou mais atenção na lista de desistentes. Também me fez pensar nesse troço de associar uma ideia a outra. Que eu ainda me lembre, Sérgio Moro havia desistido antes. Sim, isso mesmo, desistiu de ser juiz para ser ministro da justiça; desistiu de ser ministro da justiça para concorrer ao cargo de presidente, mas logo desistiu. Ainda por associação de ideias, três desistências seguidas lhe dão o direito de pedir musiquinha no Fantástico! Por falar isso, a mídia canalha, a turma cínica, hipócrita, coitada, deve estar exausta de tentar forçar a barra, há de convir que, a essas alturas do campeonato, a 3ª via também já desistiu! Qual é? Todo mundo desistindo? O que está acontecendo? Desse jeito, não dá, não é possível, assim dá nas vistas! Se continuar a lengalenga, também acabarei desistindo de ler jornal, aliás, sinto-me até burro, idiota, imbecil, poxa! Ora, após planejarem tudo, após erguerem um imenso castelo de cartas, longas pautas com mentiras absurdas, uma cafajestada atrás da outra, toda repleta de muita calúnia, injúria, gritaria, alarmismo, dois pesos, duas medidas contra opositores, como os inocentes eleitores manipuláveis vão suportar a ideia de que também foram enganados? Que eu me recorde da época do golpe parlamentar — o golpe está provado e confessado até pelo próprio Temer — a Dilma Rousseff havia declarado que esses políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições. Isso porque eles não sabem acender ao governo pelo voto direto! Lembram? De fato, isso é verdade, afinal de contas, duma maneira ou doutra, desde a velha república, os militares sempre se mantiveram no poder. Tanto com o Sarney (período da transição do após Diretas Já), tanto com o Collor (período de contrato de experiência), tanto com o FHC (período de sedimentação conservadora), eles simplesmente continuaram por trás, dando a letra da música que deveria tocar! Entretanto, a partir de Lula (2002), a política dos derrotados ainda precisou suportar mais quatro anos para então tentar reconquistar o poder nas próximas eleições, o que isso não veio acontecer em 2006, quando Lula foi eleito, novamente. Pior: a coisa toda complicou quando a Dilma Rousseff também acabou eleita em 2010 e reeleita em 2014. Nesse sentido, a reviravolta dos vencidos deu início às estratégias partidárias a fim de retomar o poder, embora ainda não houvesse mais o apoio da massa popular. Isso somente acontecia com o apoio midiático devido ao lucrativo patrocínio empresarial, de modo que tudo precisou acontecer em doses homeopáticas, tipo, água mole em pedra dura tanto bate até que fura; ou seja, até que a opinião pública mudasse de opinião. O exemplo disso tudo foi o discurso da presidente Dilma Rousseff após a votação do Senado. Está gravado. São três ou quatro declarações, se não me falha a memória.

Tive um AVC alguns anos atrás, por isso, por via das dúvidas, esclareci a dúvida no YouTube. Isso porque, de tanto ouvir o verbo desistir, lembrei de ela dizer algo justamente ao contrário: que não desistíssemos de nada. Sim, não desistam da luta, ela disse em alto e bom-tom. Esse verbo, portanto, não parte do nosso vocabulário, mas afinal é tudo o que ouço ou leio na mídia, ultimamente. É tudo o que vem acontecendo nesse período de transição governamental. Todos estão desistindo, sem sombra de dúvida, embora um e outro ainda insista em permanecer no poder, custe o que custar o prejuízo da nação. São sobras de golpistas mais sofisticados e informatizados. Ainda tentam me convencer com farsas, Fake News. Uma hora dizem uma coisa, outra hora dizem outra, sem falar nas ameaças das entrelinhas, ora avançando, ora recuando, conforme a situação. Entretanto, não importa o que digam, é o jogo sujo desse caótico governo, por isso não desistirei, é uma luta permanente. Isso exige esforço, muito trabalho, dedicação constante. Aliás, isso me lembra a presidenta acrescentar que a luta contra esse golpe é longa, ainda não terminou, sempre vale a pena lutar pela democracia, jamais desistir de lutar, por isso não desistirei, mesmo que este verbo esteja em voga, mesmo que todo mundo pense o contrário, eu não desistirei.