3 de dez. de 2016
PRIMEIRA NOTA
2 de set. de 2016
O SONHO DA CONFEITARIA COLOMBO
O SONHO DA CONFEITARIA DA COLOMBO.
Tínhamos que pegar uma torta de chocolate e duas bandejas de salgadinhos na Confeitaria Colombo. A encomenda já estava feita quando minha mãe saiu de casa, bem cedo, para trabalhar. No final da tarde, ela chegou com sacolas de supermercado, carregando carne, ovos, leite, frutas, café e pão para o jantar. Não esqueceu de nos dar um beijo no rosto, mas logo nos lembrou de apagar as luzes — afinal, ela não era sócia da Light. Em seguida, nos apressou para buscarmos a encomenda, dizendo que suas amigas não tardariam a chegar. Era o último dia de trabalho do ano, e elas viriam para confraternizar.
Com a notinha e o dinheiro na mão, eu e meu irmão
descemos de elevador e logo estávamos na calçada de Nossa Senhora de
Copacabana, perto do posto 6. A avenida fervilhava. Automóveis, buzinas, gente
passando. Copacabana, no final dos anos 60, já era uma cidade na cidade,
um pedaço cosmopolita do mundo. As três avenidas principais, sempre cheias de
movimento, contrastavam com o silêncio das ruas transversais. Era como se, ao
dobrar uma esquina, a agitação se transformasse em paz. As ruas arborizadas e
quietas lembravam cidadezinhas do interior. Aquela mudança brusca de cenário me
fazia sentir um poeta urbano, imaginando trilhas sonoras de jazz romântico para
acompanhar o momento.
Naquela época, o trompete de Miles Davis já
dialogava com a Bossa Nova de Tom Jobim. Brigitte Bardot e Leila Diniz
representavam contrastes de beleza e rebeldia. O Rock in roll começava a
surgir, e o blue-jeans se espalhava
como um símbolo de liberdade. O mundo mudava rápido, e nós, jovens, sentíamos
estarmos conquistando algo maior. A brisa que vinha do mar carregava uma
energia viva, como se o samba e o jazz estivessem se fundindo em uma nova
identidade musical. Tudo isso me passava pela cabeça, enquanto eu recebia o
troco na Confeitaria Colombo, sentindo o doce aroma dos sonhos que saíam do
forno.
De repente, tive vontade de mergulhar naquele
cheiro, de abraçar aquele momento e guardá-lo para sempre. Mas, no caminho de
volta, já a duas quadras de distância, lembrei de conferir o troco. Coloquei a
torta sobre o capô de um carro estacionado e contei as notas. Meu irmão parou
ao meu lado, segurando as bandejas de salgadinhos.
— O que foi? — ele perguntou, curioso.
Não respondi de imediato. Estava pensando no
sorriso da garota do caixa, na umidade que parecia brilhar em seus lábios.
Verifiquei o troco novamente e percebi que ela havia me devolvido o valor total
da encomenda. Fiquei dividido entre várias possibilidades: comprar um ingresso
para a peça de teatro que tanto queria ver, o novo LP do Tom Jobim ou, quem
sabe, voltar à confeitaria e devolver o dinheiro, só para ver aquele sorriso de
novo.
Decidimos voltar. (…)
Desculpe, mas se você gostou de ler isso, você pode conferir como termina esta estorinha, baixando o EBOOK pelo preço de um café expresso, afinal de contas não há nem patrocínio, propagandas comerciais, mas preciso valorizar meu trabalho, não concorda comigo?