NEM TUDO SE VIVE SÓ DE CLICHÊ





Imaginemos duas situações.

Você é um cara bem conhecido, bem quisto, muita gente lhe tem o devido respeito e admiração no pedaço de chão em que vive, nada conquistado somente a título de meritocracia, mas também de esforço braçal. Entretanto, o caso não é bem assim. O mundo dá voltas, o vento muda de direção, o que hoje pode ser assim, amanhã pode ser assado. Pois, bem! As opiniões também. Digo isso, porque seguindo essa premissa de raciocínio político, juridicamente lógico, mais técnico, dentro de cada sistema, a gente percebe, não sei por qual motivo aparente, que começam te acusar por SUPOSTO crime que você não cometeu. Sim, isso mesmo. De repente, te acusam disso e daquilo, com efeito, devassador. 

Todos, ou melhor dizendo, quase todos, falando em simultâneo, parecem os donos da verdade, não é mesmo? E o que é pior, nessa hora a maioria também pode acreditar em calúnias e difamações contra a tua nobre pessoa! 

Inclusive, podem até te levar em cana, preso sumariamente, verdade! Uma coisa sem eira e nem beira, então acaba ficando por meses e meses sem poder explicar que ‘tomada elétrica não é focinho de porco’, que isso foi uma BAITA sacanagem, um BAITA engano, um grave erro cometido contra a sua digníssima pessoa! 

Mesmo assim, olha só o veredito, o mérito da questão: você é CONDENADO em PRIMEIRA e SEGUNDA instância, tipo, uma patrola passando por cima de tudo, de todos! 

Finalmente, depois de muita luta, muito esforço, esmero jurídico, você é INOCENTADO em TERCEIRA instância. Que maravilha, justiça tarda, mas não falha, ainda que seja à tardinha’ do último dia de meses e meses sem poder botar os pés livremente na rua…

Agora imaginemos o oposto, isto é, você é INOCENTADO nas duas instâncias, mas CONDENADO na TERCEIRA! 

OPS, mas tem um detalhe, porém. Antes da ÚLTIMA instância, você foi liberto por questão de reconhecimento parcial de Habeas Corpus, afinal de contas, você não é aquele elemento, tipo, mão armada, perigoso, todos sabem disso. Mesmo assim, muito embora tivesse permanecido preso por QUASE 600 dias, ou seja, tanto na primeira e segunda situação do nosso raciocínio imaginário, o que importa nesta questão é que você ficou preso erradamente durante todo esse tempo! Bem, quanto a isso, na verdade, vem acontecendo seguidamente em nosso país, quanta gente é presa sem um julgamento decente sequer. De fato, existem situações semelhantes, muitos exemplos em nossa sociedade austera 'de primeiro se prender para depois se julgar' (o verbo matar também convém destacar), herdamos essa postura de perder de vista nossa compostura diante das autoridades vigentes, verdade seja dita, isso vem lá dos tempos de outrora, do inconsciente passado colonial, não é mesmo? Isso mesmo. Não é pouca coisa não, assim fizeram com os povos indígenas, com os povos afros. 

Pois bem, isso vem se arrastando ao longo dos séculos, aliás, não faz muito tempo, cerca de mais de 21 anos, por exemplo, quando ficamos sob o regime estratégico, logístico, ostensivo da ditadura militar. Aliás, é por causa disso mesmo, que se diga de passagem, que também até hoje vivemos sobrevivendo a esse trauma no lombo. Isso sem falar dos trabalhadores mais pobres, humildes, que sofrem a opressão 'no osso', tipo comunidades faveladas, onde existem trabalhadores de origem nordestina e também de origem afro. Além disso, existe todo aquele nosso preconceito enrustido. Toda aquela ignorância racista, classista, lá de trás, pata-ti-papata. Inclusive, tivemos recentemente um exemplo degradante com o imigrante congolês morto a pauladas, que fiasco brutal, pois todo e qualquer linchamento, de fato, é brutal, não foi o primeiro, quiçá não será o último, logo se esquecem, a coisa vira fogo de palha, pois, sim, até fato banal…

Pois, bem, tudo isso é notório, chocante. 

Mas voltando à injustiça que poderia acontecer com sua pessoa, quer dizer, com mil perdões, nada a ver exatamente com sua pessoa, mas em todo caso, isso ocorreu com o Lula, todos assistimos boquiabertos, acompanhamos o espetáculo midiático pela TV, os jornais. 

Agora o algoz, o ex-juiz, o ex-ministro da justiça, veja bem, por não ganhar o cargo no Supremo, virou candidato ao cargo de presidente do país! Imagine a cara dura, a ousadia de continuar acusando quem já nem responde por processo de crime nenhum! 

Ora, garanto que se fosse nos States que ele idolatra tanto, garanto que já estaria preso sem choradeira e sem fazer nenhum mimimi! Evidentemente, toda a maracutaia levou o malogrado sucesso à breca, o feitiço virou-se contra o feiticeiro… 

No entanto, ele continua, não acredita na rapaziada, ao contrário, pensa que ainda somos todos um bando de idiotas, massa de manobra! Tudo bem que a gente ainda precisa se fingir de morto pra ganhar sapato novo, é compreensível, é a lei da sobrevivência na selva do capitalismo. Quem tá num mato sem cachorro, hoje vive bombardeado por WhatsApp e da vida mal falada o dia inteiro, isso está cheio. Não se tem descanso nenhum, então se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Enfim, vive-se sob várias formas de ameaças do demônio. Enquanto isso, ele se diverte, passeia, viaja, faz campanha eleitoral, dá entrevistas, tanto um como o outro, prefiro não citar os nomes dos fulanos, não quero poluir a mente, mas são iguais. Ambos se acham os maiorais, os bambambãs das quebradas, tá tudo dominado, são tantas emoções, mas também são tantas imundices, tantas falcatruas, mentiras, invencionices. Até chegamos ao ponto de a gente ter que assistir o assistente do algoz fazer de maneira urgente, urgentíssima — vá lá de dentro do carro e sem slide mesmo — um tremendo e desesperador PowerPoint nas redes sociais! Poxa, que inferno tudo isso, não há cristão que aguente esse descalabro todo, quando é que teremos sossego, paz, tranquilidade, pois, convenhamos, quanta coisa lentamente, gradualmente, de fato, estava mudando socialmente nesse país! Agora voltamos outra vez para trás. Na verdade, agora, sim, precisamos mais do que nunca mudar no tocante disso daí, mas por favor, sem Arminha nos dedos e nem mais mamadeira de piroca! Chega de babaquice, somos gente de carne e osso, não somos logaritmos, não podemos nos enganar outra vez, afinal são 4 anos de nossas vidas postos fora, agora levar-se-ão anos e muitos anos para consertar o estrago, o que será de nós, o que será do nosso país…   




             

PESADELO MADE IN BRAZIL




























Derrame de óleo no mar. Desmatamentos empilhando caminhões de madeiras. O fogo ardendo as matas verdejantes. Pau-Brasil é coisa do passado, isso lá em 1500. Agora é Torresmo de bichos silvestres assados no carvão da mata deitada. Crateras de minério imitando meteoros de Lua sobre a Terra plana. Montanhas inteiras roubadas à luz do dia. Desabamentos de chão asfaltado engolindo fatias de estradas. Rios lamacentos afogando bairros, cidades. Enquanto isso, o vírus adora o festerê maravilhado, empolgado, abraçando aglomerações de seguidores abestalhados. Ambientalistas são assassinados. Hospitais cada vez mais lotados. Enfermeiras chorando pelos corredores, médicos desesperados, tristeza em cada olhar. No mais, está tudo bem. A infâmia, o escárnio, a mentira, o escândalo, o ridículo, todos a caminho dos bueiros, arrastando a verdade pelos cabelos. E os urubus, por enquanto, de asas recolhidas, em repouso, todos eles amontoados às bordas dos altos prédios, em silêncio fúnebre, somente aguardam pacientemente o desenlace dos vermes florescer. Mas, espera, não se afobe, ainda tem alguém ali na esquina assobiando Aquarela do Brasil. Será outro tresloucado, alienado, ou será outro pobre esperançoso, resistindo…  




MINHA PRIMEIRA PROFESSORA






Eu não sou religioso. Penso que nunca fui. No entanto, fui batizado, catequizado. Isso é fácil de entender. Estudei o antigo primário em colégio de freiras. Todas elas usavam o antigo hábito preto, a gente nunca via seus cabelos, por exemplo, se eram loiros, castanhos ou pretos, mas quase sempre o olhar revelava um sorriso simpático a nós.

Então, fiz a primeira comunhão e tomei todo cuidado para não morder a hóstia, não sangrar o sangue de Cristo em minha boca (assim me alertaram os amigos). No mais, foi tudo tranquilo. Na escola, tinha todas as matérias como todo colégio laico, exceto a matéria de religião católica como parte do currículo, mas não reprovava o aluno, a menos, claro, se não houvesse presença em sala de aula, no caso, havendo elevado número de faltas. Isso nunca acontecia. A professora era uma jovem freira um tanto rebelde, lia provavelmente, escondida, secretos livros de filosofia como nós. Sabíamos disso porque, antes de falar dos pensamentos de Sócrates, Platão, Espinoza, etc., ela sempre tomava o devido cuidado de abrir a porta para ver se tinha alguém nos espiando pelos corredores. A turma ficava em silêncio, em suspense, aguardando…

Bem, hoje sou adulto, sou velho, e já esqueci quando foi a última vez que entrei em uma igreja. Faz tempo, isso sei, faz muito tempo mesmo. No entanto, hoje aceito todas as religiões sem escolher nenhuma delas como estimação, talvez porque tenho agora consciência dos seus dogmas, suas crenças. Hoje elas se parecem como o ato de trocar de blusa, de camisa, conforme a ocasião. Não importa. Com a filosofia aprendi que a vida e o corpo são mais sagrados do que toda a roupagem.

Por isso, acho uma grande bobagem o que vem acontecendo no Brasil: um país que acolhe todas as religiões do mundo sem discriminação, quer dizer, pelo menos é o que consta na constituição federal. Portanto, vejo com preocupação todo esse ódio religioso misturado com ideias políticas…

Sabe, às vezes sinto saudade daquela freira lá da minha infância, minha primeira professora. Ela era tão tranquila, sorridente, simpática, e quando ela falava de filosofia, seus olhos se acendiam brilhantes, que eu até acreditava que ela era uma filósofa disfarçada de freira!




AS FLORESTAS DA AMAZÔNIA







AS FLORESTAS DA AMAZÔNIA
 A FLORESTA DA AMAZÔNIA
FLORES DA AMAZÔNIA
FLOR DA AMAZÔNIA
FLÔ DA AMAZÔNIA 
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QUEM SÃO OS EXTREMISTAS

   





O discurso de revanchismo e ódio do candidato Aécio Neves, após a segunda derrota nas urnas, não foi atitude extremista, foi só uma queixa, um desabafo reprimido pela tensão da campanha agora perdida. A escuta telefônica da conversa da presidenta Dilma com Lula não foi atitude extremista, foi somente uma escuta indevida, sem querer ser ouvida. A condução coercitiva com aquele formidável aparato espetaculoso, midiático, não foi atitude extremista, foi apenas destaque para dar audiência na mídia. As fake news do MBL, divulgadas sistematicamente nas redes sociais, difamando a presidenta Dilma e o partido dos trabalhadores, não foram, de forma alguma, atitudes extremistas, só foram sensacionalismos de tabloide apelativo. O discurso folclórico dos deputados apoiando o impeachment em nome de Deus não foi atitude extremista ou fanatismo, só foi a confirmação esperada pela opinião pública. O midiático Power Point do ministério público, evidenciando e priorizando a convicção como prova cabal contra o ex-presidente e o partido dos trabalhadores, não foi atitude extremista, foi só estrelato jurídico. Aquele apedrejamento, tiros, relhos, toda aquela violência contra a caravana do Lula e sua militância, não foi atitude extremista, só foram ânimos mais exaltados dos opositores. Aquele julgamento do Lula no caso tríplex, cujo imóvel tinha escritura em nome da OAS — o que, aliás, não havia reforma nenhuma — não foi atitude extremista, foi só aplicação das normas jurídicas imparciais. Então, o desenrolamento a toque de caixa, resultando na prisão de Lula sem trânsito em julgado, não foi atitude extremista, foi apenas o cumprimento normativista de aplicação de lei e justiça igual para todos. Os tiros desferidos contra o acampamento Marisa Letícia, que resultou na vítima gravemente ferida, não foram atitudes extremistas, foi somente um caso isolado de algum grupo mais exaltado. A proibição do Lula em participar, registrar e, posteriormente, usar seu nome na eleição presidencial, mesmo após o impedimento de receber visitas ou dar entrevistas, não foi atitude extremista, só foram critérios avaliados ao bom andamento das eleições. Não. Nada disso foi atitude extremista. A atitude extremista foi a de Dilma buscar defesa legal até o fim. Atitude extremista foi Haddad discursar, reconhecendo democraticamente a derrota. Outra atitude extremista foi ele não faltar com postura educada para responder às perguntas éticas e nada intimatórias do Jornal Nacional da Rede Globo, enquanto ele falava em democracia, defesa social aos mais pobres, destacando projetos fundamentais de fomento, desenvolvimento da economia, enfim, toda a sociedade brasileira. Isso, daí, sim, é de gente extremista. Convenhamos, todos viram, perceberam, ninguém é burro, alienado. O Partido dos Trabalhadores é extremista…

— Ora, pelo amor de Deus, cale sua boca, não como capim!