13 de nov. de 2024

UMA VIDA ENTRE PÁGINAS

 

Fotografia original do acervo img do autor

Uma Vida Entre Páginas.


Lembro-me de criança, imerso em um mundo de letras e imaginação. A caneta, meu fiel escudeiro, deslizava sobre as páginas em branco, dando vida a personagens e aventuras que brotavam da minha mente fértil. A escrita era um refúgio, um lugar onde eu podia ser quem quisesse e viver as mais incríveis histórias.

Mas a vida, como se sabe, nem sempre se alinha aos nossos sonhos. As responsabilidades se acumularam cedo e a necessidade de trabalhar me afastou um pouco da literatura. Os cadernos, no entanto, continuaram sendo meus companheiros inseparáveis. Escrevia em qualquer canto, em qualquer momento que encontrasse um tempinho livre. Eram dezenas de cadernos, todos rabiscados com letras miúdas e cheios de sonhos.

Naquela época, a tecnologia ainda era um sonho distante. A máquina de escrever, quando finalmente a adquiri, era um luxo e uma novidade. Pesada e barulhenta, ela me acompanhou por muitos anos, registrando cada palavra com o tilintar característico das teclas.

Hoje, com o advento da era digital, a escrita se tornou ainda mais prazerosa e acessível. Posso criar, editar e publicar meus livros com apenas alguns cliques. A possibilidade de revisar e atualizar meus textos a qualquer hora e em qualquer lugar é um privilégio que eu nunca imaginei ter.

Mas, apesar de todas as facilidades que a tecnologia oferece, ainda sinto uma certa nostalgia pelos cadernos antigos. Aquelas páginas amareladas, cheias de rabiscos e correções, guardam uma parte importante da minha história. São testemunhas de uma paixão que nasceu na infância e que continua viva até hoje.

A escrita é mais do que apenas um hobby para mim. É uma forma de expressão, uma maneira de compartilhar minhas experiências e conectar-me com outras pessoas. E, acima de tudo, é uma paixão que me acompanha desde a infância e que me faz sentir vivo.

Por isso, continuo escrevendo, revisando e aprimorando meus textos. A cada nova palavra, a cada nova história, sinto a mesma emoção que sentia quando criança, com a caneta na mão e um mundo de possibilidades à minha frente.





9 de nov. de 2024

A NÉVOA QUE ROUBA MEMÓRIAS

 

Img Ilustração Pixabay

A Névoa que Rouba Memórias.

A memória é um labirinto intrincado, onde guardamos as preciosidades de nossas vidas. Cada canto, cada curva, cada bifurcação abriga um fragmento de quem somos, um pedacinho de história que nos moldou. Mas, para alguns, esse labirinto se transforma em uma névoa densa, obscurecendo os caminhos e apagando as lembranças. É assim que se manifesta o Alzheimer, um ladrão silencioso que invade a mente e rouba o passado.

Imagine ter vivido uma vida rica, repleta de experiências e amores, e de repente, ver tudo se esvair como fumaça ao vento. É como se a mente se tornasse um livro com páginas em branco, onde antes havia uma narrativa vibrante. O Alzheimer é um pouco disso: uma doença que apaga as letras e as palavras, deixando apenas um rastro tênue de quem se foi.

No início, são esquecimentos pequenos, como onde deixou as chaves ou o nome de um conhecido. Mas, com o tempo, a doença avança e os lapsos se tornam mais frequentes e mais profundos. A pessoa pode esquecer o rosto de um filho, o sabor da comida favorita ou até mesmo como realizar tarefas simples, como tomar um banho ou se vestir.

É uma jornada dolorosa, não apenas para quem sofre da doença, mas também para os familiares e amigos. Ver um familiar se perder em sua própria mente é como assistir a um naufrágio em câmera lenta. A cada dia, um pouco mais daquela pessoa se afasta, deixando para trás um vazio imenso.

No entanto, mesmo diante de um cenário tão desafiador, é preciso manter a esperança. A ciência avança a passos largos, e novas terapias e medicamentos estão sendo desenvolvidos. Além disso, o cuidado e o carinho dos familiares e amigos podem fazer toda a diferença na qualidade de vida do paciente.

Esta crônica, evidentemente, não tem o intuito de informar sobre o mal de Alzheimer — uma profunda névoa que rouba memórias, mas dizer sobre a fragilidade da vida, sobre a importância de cada momento, de cada abraço, de cada palavra dita. É um convite à reflexão sobre como valorizamos nossas memórias e como podemos oferecer apoio e compaixão àqueles que as estão perdendo.





29 de out. de 2024

UM REENCONTRO INESPERADO

 

Ilustração Pixabay

Um Reencontro Inesperado.

O Dia do Livro sempre me leva a uma jornada nostálgica, repleta de lembranças agridoces. A alegria pela celebração desse objeto tão especial contrasta com a tristeza de uma perda que, por muito tempo, marcou minha vida.

Quando era mais jovem, a necessidade me obrigou a decidir com tristeza: vender parte da minha biblioteca. Cada livro que colocava na caixa de papelão era como se estivesse me despedindo de um velho amigo. Aquele dia, ao levar os livros para o sebo, senti como se estivesse vendendo um pouco da minha alma.

Com o passar dos anos, a vida seguiu seu curso, e a biblioteca foi sendo reconstruída lentamente. Mas a saudade daqueles primeiros livros sempre esteve presente.

Um dia, passeando pelo centro da cidade, me deparei com uma livraria de sebo. Entrei por curiosidade e, ao me deparar com as estantes repletas de livros usados, senti um frio na barriga. Comecei a percorrer os corredores, passando os dedos pelas lombadas, buscando algum título familiar. E então, lá estava ele: um dos livros que havia vendido anos atrás.

A emoção foi tão grande que mal consegui acreditar no que meus olhos viam. Segurei o livro em minhas mãos, sentindo a mesma textura do papel, o mesmo cheiro de tinta. Era como se o tempo tivesse parado. Naquele momento, todas as lembranças daquela época voltaram à minha mente.

Ao pagar pelo livro, senti uma alegria indescritível. Era como se tivesse reencontrado um velho amigo perdido. Ao voltar para casa, abri o livro e comecei a ler, sentindo a mesma emoção da primeira vez.

Essa experiência me mostrou que, mesmo que a vida nos obrigue a tomar decisões difíceis, a esperança de reencontrar o que perdemos nunca se apaga. E os livros, com sua capacidade de transportar-nos para outros mundos e conectar-nos com diferentes realidades, são um dos maiores tesouros que podemos ter.

O Dia do Livro é uma celebração não apenas da literatura, mas também da memória e da esperança. É um convite para celebrarmos a vida, a amizade e a magia das palavras.


Ler é bom.





12 de out. de 2024

UM DIA DE CONTRADIÇÕES

 

Ilustração Pixabay

UM DIA DE CONTRADIÇÕES.


Hoje, 12 de outubro, o Brasil se divide em duas celebrações: o Dia das Crianças e o Dia de Nossa Senhora Aparecida. Enquanto famílias se reúnem para celebrar a pureza e a inocência da infância, notícias de guerra ecoam do Oriente Médio, nos lembrando do lado mais sombrio da humanidade.

Confesso que, apesar da alegria de estar cercado por meus filhos e netos, um peso enorme se instala em meu peito. A cada sorriso infantil, a cada abraço apertado, a imagem de crianças em outras partes do mundo, aterrorizadas e órfãs, se torna cada vez mais presente.

Como podemos celebrar a vida em um mundo tão marcado pela morte? Como podemos nos sentir felizes em um dia como hoje, sabendo que milhares de pequenos corpos são dilacerados por bombas e balas? É uma contradição que me atormenta e me faz questionar o sentido da existência.

Sinto-me privilegiado por ter a oportunidade de celebrar este dia em família, mas também me sinto culpado. É como se estivesse participando de uma festa em meio a um velório. A alegria parece deslocada diante de tanto sofrimento.

Nossa Senhora Aparecida, símbolo de fé e esperança, nos ensina a amar ao próximo como a nós mesmos. Mas como amar ao próximo quando ele está tão distante, sofrendo tanto? Como manter a fé diante de tanta crueldade?

Neste dia, mais do que nunca, sinto a necessidade de rezar por todas as crianças do mundo, especialmente por aquelas que estão sofrendo as consequências de guerras injustas. Que a paz possa prevalecer e que todas as crianças cresçam em um mundo livre de violência.

Que Nossa Senhora Aparecida interceda por nós, para podermos transformar este mundo em um lugar mais justo e humano. Sim. Que a alegria da infância possa ser um direito de todos, e não um privilégio de poucos.

Em meio a tanta tristeza, a fé me impulsiona a seguir em frente. Acredito que a compaixão e a solidariedade ainda podem mudar o mundo. E é com esse sentimento que encerro esta crônica, na esperança de que possamos construir um futuro mais justo e humano para todas as crianças do planeta.



10 de out. de 2024

A MALDIÇÃO DO REVISOR EM MIM

Ilustração OpenClipart-Pixabay


 A MALDIÇÃO DO REVISOR EM MIM.

 

Sou um autor, um escritor, um criador de mundos, um arquiteto de frases… quer dizer, acho que sou, não sei bem, às vezes tenho dúvidas disso, talvez eu seja um revisor incansável, um editor implacável e um crítico literário impiedoso… comigo mesmo.

A cada palavra que escrevo, um exército de dúvidas se levanta, um batalhão de “e se” invade minha mente. Sim, esta palavra está boa? E se eu trocasse por outra? Será que o adjetivo combina? Pior. Será que a frase inteira é essa? Pior ainda, a história é essa mesma? Hum, e se eu… 

E assim, a dança frenética entre a criação e a destruição se inicia. É como se eu tivesse dentro de mim um revisor insano, cruel, quiçá até mesmo seja um sádico, que se aproveita da minha fragilidade ou insegurança intelectual, tomando conta de tudo.

A cada releitura, descubro um novo erro, uma nova possibilidade, uma nova ideia que, claro, exige a reescrita de tudo o que já foi escrito até aqui! É um ciclo vicioso, um labirinto sem fim, uma espiral descendente rumo à loucura!

Já tentei de tudo pra conter esse impulso autodestrutivo. Tentei escrever em blocos de notas, em guardanapos, em papéis amassados. Já tentei ditado, gravação, escrita automática. Nada funciona. A obsessão pela perfeição me persegue como uma sombra.

E o pior de tudo é que, por mais que me esforce, nunca consigo ficar satisfeito no final. Sempre acho que poderia ser melhor, mais brilhante, impactante. É como se estivesse condenado, não adianta, por mais que me aproxime da ideia, ela sempre se afasta de mim.

O problema é que essa busca incessante pela palavra certa, pela frase perfeita, se torna um labirinto sem fim... viu só? Também repetitivo! Começo a reescrever parágrafos, a mudar a ordem das cenas, a alterar completamente a história, do começo ao fim! É um ciclo vicioso que me consome inteiramente!

A cada revisão, a história se transforma em uma criatura mutante, nunca ficando completamente como deveria ser, nada a ver com sua própria forma, estrutura, enfim, nunca consigo chegar à versão definitiva, sempre falta alguma coisa...

Ah, se ao menos tivesse leitores que comprassem meus livros… poxa, eu teria condições de contratar um revisor profissional, então finalmente me livraria da maldição do revisor interno e pararia de jogar minhas histórias na lata de lixo.

Enquanto isso não acontece, paciência, continuo preso nesse ciclo infernal. Sinceramente, acho que não sou um escritor, já estou começando a achar que sou, mesmo, um revisor torturante, talvez seja mais fácil me dedicar a esse ofício… quiçá eu não desenvolveria melhor meu sadismo... ou será masoquismo?